quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Consideramos justa toda forma de amor?

Foto: Yasmim Pessoa

      Quando um homem e uma mulher trocaram carícias e beijos em público, acham normal e até bonitinho. Mas se pessoas do mesmo sexo demonstram carinho nessas mesmas condições, são olhadas com estranheza. Afinal, por que essa distinção entre as duas situações se, em ambas, se trata de seres humanos?
      De um lado os religiosos se baseiam na Bíblia para contestar os homossexuais usando a referência de Adão e Eva como a única forma de relação amorosa aceitável. O diferente deste padrão é tachado de imoral ou até satânico. Do outro lado há os que defendem a liberdade e o respeito da sua sexualidade usando o amor pregado nas escrituras como argumento.
      A heterossexualidade ainda é vista como um modelo a ser seguido. Ridicularizar o “diferente” é uma das armas utilizadas para impor a hierarquização das sexualidades. São piadas de mau gosto, comentários inadequados, agressões verbais e físicas. Homossexuais são agredidos diariamente e um deles é morto a cada 20 horas somente por sua opção sexual.
      A homofobia no país tem a idade da nação. No Brasil Colônia, relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo eram consideradas crime. A criminalização acabou, mas o preconceito se perpetuou. Propagar o ódio escondendo-se em argumentos ultrapassados parece mais fácil que tolerar a diversidade. (Yasmim Pessoa)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Quente como o pecado

Foto: Aderlon Amorim

Meus olhos brilhavam todas as vezes que encarava aquele menino gentil. Eu me sentia seguro, era como se a nossa amizade estivesse se transformando em uma paixão. Ele sempre me chamou de amigo diferente, mas nunca entendi o sentido dessa frase.
Rodrigo estudava no 3º ano do ensino médio e eu no 1º. A gente conversava quase sempre nos intervalos da escola. Dentro de mim o desejo de beijá-lo fervia, nunca arrisquei tocá-lo, pois ele era mais inocente que eu. Acho que Rodrigo me via como uma criança imatura, inocente, o despreparado era ele.
Caminhando na minha direção a passos lentos, sorrindo timidamente no meio dos meus amigos Rodrigo chega. Meu coração disparou, pois ele nunca tinha vindo até mim. Quando percebi ele chamou o meu nome: - Lucas! Eu estava sorrindo enquanto ele me beijava, senti o gosto quente que ardia no meu corpo. Ele sorriu, me olhou e foi embora. (Aderlon Amorim)


sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Quero perder a minha virgindade

Foto: Aderlon Amorim

Meu nome é Lucas, tenho 15 anos e comecei a pensar um pouco sobre a minha virgindade. Conheço muitos colegas que afirmam não serem mais virgens. Tenho minhas dúvidas, às vezes muitos só querem um pouco de status no meio do meu grupinho. Sempre tive vontade de conhecer um pouco sobre a minha sexualidade, mas o medo era a grande barreira da minha vida.
Eu sei que aos olhos da sociedade um jovem de 15 anos é uma criança imatura, mas para os meus amigos não, nós somos “os pegadores”. Luiza é uma das meninas mais belas do nosso grupo, porém a mais reservada. Minha vontade era poder tocar aquela pela morena e sentir o seu beijo quente me envolvendo, ilusão imaginária.
Sou virgem mesmo, mas tenho vergonha da minha situação. As pessoas falam que tudo tem sua hora. A verdade é que eu não consigo mais esperar. Os meus amigos “pegam” meninas todos os dias, mas eu continuo apaixonado pela Luiza mesmo sabendo que nunca vou poder tocá-la. (Aderlon Amorim)

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Afinal, eles estão apenas se expressando

Recorte do cartaz de Meninos não choram (1999)
A criminalização da homofobia é um dos assuntos mais debatidos neste período eleitoral. Mas não é de agora que vem à tona. Por causa dos inúmeros casos de agressões a homossexuais, é também pauta de discussões sociais. São agressões que se manifestam de variadas formas e, em muitos casos, o histórico de insultos vem desde a infância, como é o caso de Ruleandson do Carmo, que escreveu a seguinte crônica em seu blog contando sua historia. Infelizmente, as histórias na crônica a seguir são reais. A crônica também. (Yasmim Pessoa) 


Não é homofobia: uma história real 

por Ruleandson do Carmo

           Eu tinha dois anos de idade e gostava de imitar Michael Jackson, quando o via dançando na TV. Era louco com ele. Saí um dia com meu pai e fiquei murmurando a música do Michael e rebolando com minha mãe. "Seu filho já nasceu boiola", disse o amigo do meu pai que só parou de rir quando fomos embora. Não era homofobia, ele estava apenas se expressando.

domingo, 19 de outubro de 2014

A voz da mídia social contra um político imaturo

Reprodução: Casal sem vergonha
Levi Fidelix, político que concorreu ao cargo de presidente do Brasil, fez declarações ofensivas as pessoas de orientação LGBT. O estudante de publicidade Daniel Oliveira escreveu uma carta de indignação, demonstrando repúdio às palavras do candidato. Carta aberta divulgada pelo site Casal sem vergonha no dia 29 de setembro de 2014. (Aderlon Amorim)

Carta aberta ao Levy Fidelix
Por Daniel Oliveira
Caro Senhor Levy Fidelix,
Eu poderia fazer uma crônica ou artigo enorme apontando os erros da tua fala, mas já fizeram isso por mim. Eu poderia despontar em argumentos teológicos ou sociológicos, mas também já fizeram isso por mim.
Então venho falar sobre a raiva com que o senhor declama suas palavras contra o povo gay. Defende a família e se diz homem direito, mas aposto que acha que o lugar de mulher é na cozinha e na cama como procriadora. Aposto que tu olhas para um negro na rua e já associa à marginalidade. Senhor candidato, você é o pior clichê existente no mundo de hoje: o clichê da escória humana.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A liberdade do prazer influenciando gerações

Zygmunt Bauman
O sexo não é o principal meio de unir os casais. A busca pelos novos prazeres acontece pela mudança na nova era que permite uma liberação maior nessas escolhas, onde até as próprias crianças são influenciadas pelos pais. Reportagem divulgada pelo site Ensaios de Gênero no dia 27 de Julho de 2014 (Aderlon Amorim).

O sexo como tática de atomização na contemporaneidade
Por Vinícius Siqueira

O sexo não é só uma atividade instintual, muito menos uma libertação do mundo das regras. Sexo não é a natureza imperando sobre a cultura, pois ele também é regido por normas e também tem objetos legitimados. Uma libertação sexual (como a dos anos 60), portanto, ao pé da letra não poderia existir, mas teria que ser interpretada como uma mudança das regras que regem a relação dos indivíduos com o sexo. O que acontece na pós-modernidade (e que tem como marco simbólico o Maio de 68), segundo Zygmunt Bauman, é um rearranjo das regras que possibilitam o sexo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Os olhares de Carolina

Foto: Aderlon Amorim

Carolina tinha o cabelo loiro, cheio de cachinhos. Lembro como se fosse hoje, seu olhar penetrando na minha alma. Ela era muito tímida, mas foi através dela que pude descobrir um pouco sobre a minha sexualidade.
Sempre fui curioso e conseguia mesmo que na brincadeira invadir espaços particulares de muitas pessoas. Aquele cabelo me tirava do sério. A menina era inocente e trocava de roupa na minha frente, pensando que eu estava querendo apenas a amizade dela. Eu sentia algo diferente dentro de mim, como se quisesse beijá-la, mas sem tocá-la.
Ela colou os seus olhos fixos na minha direção e falou: “- Eu sei que você não gosta de meninas”. Carol parecia tão meiga, tão inocente, mas no fundo ela sabia que o que eu sentia era apenas algo indefinido naquele momento. Carolina não sabia que essa frase estava me fazendo acordar para uma nova visão sobre o que eu realmente sentia. Comecei a duvidar de mim mesmo e fixar os meus sentimentos em outros olhares. (Aderlon Amorim)