domingo, 5 de novembro de 2017

Vão chorar a tua morte

Descrição para cegos: desenho digital de 3 pessoas, pintadas com cores diferentes. A primeira pessoa, da esquerda para a direita, é rosa, uma cor geralmente considerada feminina; a pessoa do meio está pintada com várias cores que variam do laranja ao verde; e a pessoa da direita é azul, uma cor geralmente considerada masculina. A pessoa do meio tem uma lágrima de sangue caindo de um dos olhos. O fundo está coberto com um pano preto.
Por Felipe Lima

Morri na última quinta-feira. Eu que já nasci morta porque não era azul nem rosa. Os obituários do meio-dia comentaram bem por alto. Enquanto me perguntava qual foto minha iriam colocar na TV, observei meu sangue mudando-se para outras veias: as rachaduras de uma calçada, no meio de uma praça qualquer. Ao redor, as estátuas de figuras importantes me assistiram, paradas, assim como as outras estátuas – as de carne e osso.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

As heroínas trans de Tangerine

Descrição para cegos: silhueta contraluz em que, no canto direito, são perceptíveis as 2 personagens principais do filme andando por Los Angeles à tarde. Em segundo plano, aparecem uma fileira de palmeiras e postes de luz.
Por Felipe Lima

Dos pés ao fio de cabelo propositalmente desalinhado, o herói clássico do cinema estadunidense nunca foi uma pessoa transgênero. As histórias filmadas para cativar, para nos abrir janelas para novos mundos – e, não menos importante, para fazer toneladas de dólares –, quase sempre trazem personagens homens cisgêneros para quem os holofotes estão todos virados. Independentemente de qual faceta do herói a personagem vai assumir, é sempre assim. Mesmo o estouro das heroínas no cinema é uma coisa recente. Mas quanto a pessoas trangêneros: são uns gatos-pingados quase inexistentes.