terça-feira, 30 de abril de 2019

Resistência para ocupar todos os espaços.


Descrição para cegos: Amara Moira está sentada de pernas cruzadas, olhando para câmera sorrindo. Na parte superior esquerda tem uma estante com vários livros, e abaixo uma mesa com mais livros e papeis. Foto: Caroline Lima

O blog Huff Post realizou uma entrevista com a professora e escritora Amara Moira, na qual ela relata as dificuldades de ser uma mulher trans no meio acadêmico, a dificuldade de aceitação de sua sexualidade, o preconceito vivido cotidianamente e a burocracia para usar seu nome social. Amara foi a primeira pessoa transgênero a defender seu doutorado usando o nome social, na Unicamp. Sua resistência foi motivada pelo desejo de ser exemplo para outras mulheres trans e trazer impacto positivo para o movimento LGBTQ+. 

Por: Joyci Medeiros

domingo, 28 de abril de 2019

Resenha do filme Carol (2016), dirigido por Todd Haynes

Descrição para cegos: A esquerda vemos Therese, em atendimento na loja em que trabalha, usando um gorro vermelho. Do lado direito está Carol, que usa um casaco de pele e olha fixamente para Therese. Ao fundo é possível identificar clientes realizando compras de natal. Foto: Divulgação 

O longa-metragem Carol retrata um romance entre duas mulheres. Na trama Carol (Catherine Blanchett) é uma mulher rica de meia idade que está passando por um divórcio conturbado. Seu marido Harge (Kyle Chandler) teme que um romance homoafetivo abale seu prestígio social, um escândalo que denegriria sua reputação. Therese (Rooney Mara) é uma jovem que está em processo de autodescoberta, tanto de sua personalidade como da sua sexualidade. Ela anseia ter mais que uma vida mediana e tradicional, seu desejo é por liberdade. Ao se apaixonar por Carol, ela larga tudo a fim de vivenciar plenamente essa paixão.
Carol é um ótimo filme, e trata a temática LGBT de forma sensível e delicada, não apelando para estereótipos ou objetificação das personagens como outros filmes que abordam essa temática. A sexualidade de Carol e Therese é tratada de forma natural, assim como o desenvolvimento do romance. As atrizes realizam uma atuação louvável, rendendo a ambas indicações ao Oscar, com Catherine Blanchett indicada na categoria de melhor atriz e Rooney Mara, como melhor atriz coadjuvante.
Em paralelo à evolução do romance, há uma evolução pessoal de Therese.  Ela se descobre uma mulher decidida e confiante, não se prendendo aos padrões impostos pela época, isso ocorre de forma linear, muito bem construído no enredo.
Descrição para cegos: Na imagem vemos Carol em pé olhando para baixo. a sua frente está Therese sentada com uma expressão de tristeza.  Foto: Divulgação.
A sensibilidade do diretor ao conduzir a trama e a relação das personagens cativa e seduz a todos que se dispõem a apreciar a obra. Quando estão em público é necessário se resguardarem quanto á demonstrações de afeto, mesmo assim é perceptível o sentimento existente entre as personagens. É palpável o desejo no olhar de Carol quando encara Therese. Do mesmo modo a forma singela como Therese fotografa Carol torna perceptível o prazer que ela sente ao estar junto de sua amada. Pequenas coisas que enternecem e cativam e passam a intensidade da relação entre as duas.
Uma obra como essa é preciosa, tendo-se em vista que representações cinematográficas exercem influência na construção de conceitos e perspectivas da sociedade.
No fim, o filme consegue cumprir seu papel de modo brilhante, mostrando uma nova abordagem sobre uma temática lésbica. De forma sensível e ao mesmo tempo intensa, mostra as dificuldades enfrentadas por muitos casais homoafetivos que eram e ainda permanecem, em muitos casos, privados de sua liberdade afetiva por conta de concepções equivocadas que permeiam toda sociedade. 

Por: Joyci Medeiros

Sobre ser inexoravelmente negro, gay e amável: a obra política de James Baldwin

James Baldwin em Nova Iorque. Fonte: Fundação Richard Avedon. Descrição para cegos: o autor James Baldwin aparece sentado.
Por: Mariani Pontes 
Publicada na revista CULT, a matéria examina parte da trajetória de vida e de profissão do proeminente escritor e intelectual do movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos, James Baldwin. A importante figura tem suas obras examinadas, pontuando a influência literária e o impacto social, com sua atribuição poética na dissecação de estruturas sociais opressivas em relações interpessoais. Analisa-se o recebimento da arte do autor em vista do silenciamento da sua sexualidade e das tentativas de despolitização de seu extenso trabalho, dando assim, ênfase na essencialidade de se reconhecer e celebrar a experiência de negritude e homossexualidade de Baldwin e, logo, de sua obra.

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Drag me as a Queen: A representatividade drag na Tv brasileira.

Descrição para cegos: na foto, na ordem da esquerda para a direita, estão as drag queens Rita Von Hunty, Penelopy Jean e Ikaro Kadoshi, apresentadoras do reality “Drag me as a Queen”, do Canal E!. Por: Reprodução.



Por Matheus Cirne

       A matéria, escrita por Camila Brunelli, mostra o trabalho de três drag queens brasileiras, Rita Von Hunty, Ikaro Kadoshi e Penelopy Jean, que atualmente apresentam o reality “Drag me as a Queen”, no Canal E! do Brasil. O programa em questão busca produzir o encontro da participante com sua diva interior, proporcionando, entre outras coisas, mudanças de cabelo e de maquiagem. Perpassando o estilo especifico de cada uma das três drags, a matéria ainda aborda o valor politico que esta arte possui, bem como a importância da representatividade drag na Tv brasileira.

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sábado, 27 de abril de 2019

Em quase 200 anos de história, Polícia Militar de São Paulo tem seu primeiro policial transexual

Descrição para cegos: O policial militar Emanoel Henrique Lunardi Ferreira aparece em duas fotos. A primeira, localizada no lado esquerdo, apresenta o policial antes da transição, já a segunda, o mostra depois do processo. Por: Reprodução.




       Por Matheus Cirne

       A matéria informa que a Polícia Militar de São Paulo, pela primeira vez em quase 200 anos de historia, tem seu primeiro policial transexual. Emanoel Henrique Lunardi Ferreira, soldado da PM na cidade paulista de Ituverava, entrou na corporação no ano de 2016, antes da sua transição. Deste modo, a matéria também aborda o processo de transição do policial militar, que se deu quando este já estava dentro da corporação, evidenciando o papel desta durante todo o processo.

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terça-feira, 23 de abril de 2019

Grupo Gay da Bahia lança relatório sobre mortes de LGBTs no Brasil em 2018

Descrição para cegos: capa do relatório da população LGBT morta no Brasil no ano de 2018, contendo a foto de Matheusa Passareli, uma das vítimas. Por: Grupo Gay da Bahia.


Por Matheus Cirne

 
       A matéria, escrita pela redação da revista Lado A, noticia que o Grupo Gay da Bahia, importante entidade que há 39 anos realiza o registro de dados de violência contra a população LGBT+ no Brasil, divulgou seu relatório anual sobre as mortes por LGBTfobia do ano de 2018. Neste sentido, os dados contidos no relatório informam que no último ano, 420 LGBT+ perderam suas vidas no Brasil, sendo 320 mortes em decorrência de homicídios e 100 por suicídios. Em comparação ao ano de 2017, no qual foram registradas 445 mortes, houve uma tênue redução.   
       A redação salienta que no Brasil, a cada 20 horas, um LGBT perde sua vida, dado que coloca o país em primeiro lugar no ranking de países que mais matam LGBTs no mundo. Ademais, a matéria ainda pontua que com o governo de Jair Bolsonaro, os riscos ao aumento da violência contra a população LGBT podem aumentar, na medida em que o discurso LGBTfobico se legitima e reafirma preconceitos.

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domingo, 21 de abril de 2019

Os efeitos da colonização e o imperialismo europeu para a comunidade LGBT+ no continente africano


Imagem retirada do documentário ugandês The Pearl of Africa (2016). Foto – Reprodução. Descrição para cegos: Imagem retirada do documentário ugandês The Pearl of Africa (2016). A atriz e protagonista da trama Cleo Kambugu aparece no canto direito da foto. Do outro lado lemos o texto em inglês “Transgender life in Uganda” e a hashtag “#TPOATV”.
Por: Mariani Pontes
Escrita por João Pedro Silveira, a matéria pontua a relação existente entre os processos de colonização e neocolonização da África para a construção e manutenção de sistemas de repressão - mantidos no continente até hoje - à comunidade LGBT. A partir de uma perspectiva historiográfica, a influência política do cristianismo e islamismo é levantada como novas práticas que consolidaram seus conceitos morais em um cenário que se opõe às religiões historicamente abertas à diversidade sexual e de gênero das sociedades africanas.

Confira a matéria completa clicando aqui.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Barreiras para inclusão de transexuais no esporte


Descrição para cegos: Tifany de Abreu posa para foto com uma mão apoiada na rede de vôlei e a outra segurando a bola do mesmo esporte. Por: Vôlei Bauru

O site Uol apresenta uma entrevista realizada com Tifanny de Abreu, primeira mulher trans a compor a elite do vôlei brasileiro. A atleta expõe as dificuldades que enfrenta para permanecer no meio esportivo, destacando a rejeição que sofre por jogadoras que acreditam que, por ela ser transgênero, tem superioridade física em relação as demais. A respeito disso o Comitê Olímpico Internacional e a Federação Internacional de Voleibol consideram legitima sua atuação. A jogadora relata também como foi o processo de transição de gênero e comenta sobre sua candidatura a deputada federal pelo estado de São Paulo. Acesse a matéria clicando aqui.
Por Joyci Medeiros

sexta-feira, 12 de abril de 2019

A inclusão social encontrada por mulheres indígenas trans na Colômbia

Angélica fotografada por Lena Mucha. Fonte: Lena Mucha - National Geographic. Legenda para cegos: Uma das mulheres entrevistadas na reportagem, Angélica, aparece deitada no seu tempo livre na fazenda onde trabalha.
Por: Mariani Pontes

A reportagem da fotógrafa e antropóloga social alemã Lena Mucha, publicada na revista National Geographic, acompanha o cotidiano de mulheres indígenas trans que encontraram nas fazendas de café na Colômbia um espaço onde são incluídas socialmente, com a livre expressão de suas identidades de gênero e sem a ameaça de violência sexual, o que contrasta com a realidade vivida por elas nas suas próprias comunidades. Nas plantações de café das montanhas de Eje Cafetero, o trabalho é realizado nos campos pelo dia e, durante o tempo livre, essas mulheres podem se vestir ao seu gosto, sem punição ou assédio.

todo espaço, corpo e forma

eu levo raiva comigo
para quando for útil
pode servir como o último estímulo a preencher minhas entranhas
para gritar
ou menos sentidos
para reagir
para quando eu possa não ter mais nada a dar ou oferecer
e eles não tenham mais nada a tirar de mim, eu levo raiva
porque, diariamente,
eu encaro o ódio
então, eu levo um pedaço dele comigo
para quando for necessário
ainda assim, eu me vejo amando
quando meus olhos percorrem todo espaço,
corpo
e forma
feminina
nada sem intenção, nada por engano
e eu posso me distrair olhando
e eu vejo a razão por trás
então, eu levo raiva comigo
para quando eles quiserem me fazer olhar para o outro lado
Por: Mariani Pontes

terça-feira, 9 de abril de 2019

Cruzamento de opressão: é preciso discutir a solidão do homem negro gay afeminado


Resultado de imagem para Boscoe Holder obra homem nu
Descrição para cegos: pintura de um homem negro de pele retinta nu, deitado de lado com uma das pernas dobradas. Ao fundo tem tons dourados, fazendo com que a pele negra reluzir. Obra: Nu masculino (sem data), por Boscoe Holder.

Marcos Wandebaster, articulista do portal Geledés, traz uma reflexão acerca da solidão de homens negros gays afeminados. O autor trata das problemáticas enfrentadas por esse recorte, como ausência de um espaço para se debater sobre racimo, homofobia e sexualização, já que o tema não é tratado dentro dos movimentos sociais. Além disso, Marcos expõe como a opressão começa na dificuldade de aceitação pessoal, visto que a mídia sempre mostra negros gays afeminados carregados de estereótipos. A sexualização do corpo negro também afeta o modo como são vistos, diante disso, há uma constante negação de afeto, havendo inclusive um sentimento de rejeição por parte de gays não afeminados. Confira a matéria aqui
Por: Joyci Medeiros




segunda-feira, 8 de abril de 2019

Atriz e roteirista trans Júlia Katharine conta histórias de sua vida no filme ‘Lembro Mais dos Corvos’

Descrição para cegos: A atriz e roteirista Julia Katharine posa para foto. Por: Universo Produção/Leo Lara.

   Por Matheus Cirne 

       A matéria, escrita pelo Centro de Informação da ONU no Brasil, entrevista a atriz, roteirista e mulher trans Julia Katharine, atualmente em cartaz nos cinemas com o filme ‘Lembro Mais dos Corvos’, no qual conta histórias sobre momentos de sua vida, evidenciando as dificuldades de ser uma mulher transexual. O longa, vencedor de dois prêmios relacionados ao universo cinematográfico, conta com um roteiro construído pela própria artista e foi gravado no decorrer de uma noite no seu apartamento. Na entrevista, a atriz ainda comenta sobre como se deu o processo de construção do roteiro e sobre seus futuros projetos cinematográficos.
Confira aqui a matéria

domingo, 7 de abril de 2019

Uma nova perspectiva a respeito da criminalização da homofobia no Brasil

Parada do Orgulho LGBT de Brasília, em junho de 2017. Fonte: Mídia NINJA. Descrição para cegos: Duas mulheres caminham rumo à parada do orgulho LGBT+ de Brasília, em junho de 2017. Uma delas está coberta com uma bandeira nas cores do arco-íris, símbolo atribuído à comunidade LGBT+. Mais a frente, são vistos os prédios do congresso nacional brasileiro.
Por Mariani Pontes
A matéria, de Bruna de Lara, se aprofunda numa análise sobre a criminalização da homofobia, apresentando tópicos não muito discutidos sobre o tema, como a insidiosidade de interesses políticos que se escondem atrás de uma cultura punitivista de criminalização. Dentro do atual cenário político brasileiro, ressalta-se o mérito simbólico da lei, mas também suas consequências substanciais em diferentes camadas sociais vulnerabilizadas. Sobre o enfrentamento à violência, é proposto um raciocínio meticuloso e uma organização política refletida em ações práticas que sirvam de suporte prévio à criação de uma lei como a criminalização da homofobia, se atentando para os setores educacionais e protecionistas. A autora entende o jogo de interesses na estrutura de leis deficientes, contraprodutivas e não-funcionais.

Acesse a matéria na íntegra aqui.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Cantora, negra e trans: um relato sobre coragem e libertação.



Descrição pra cegos: Cantora Liniker cantando, seus olhos estão fechados, a boca está aberta e nas mãos segura o microfone. Ao fundo dois homens, integrantes da banda, e uma grande janela branca. Por: Leila Peteado


Em entrevista ao jornal Carta Capital, a cantora Liniker, vocalista da banda Liniker e os Caramelows, relata sobre como é ser uma mulher negra e trans em um país onde o racismo e transfobia ainda são muito presentes. Ao tratar sobre identidade, a cantora confessa que na infância não tinha referência no meio artístico, mas atualmente a cena é bem mais plural. Entre os relatos sobre a carreira, Liniker destaca o show que fez nos Estados Unidos logo após a morte de Marielle Franco, quando, mesmo longe do Brasil, usou sua arte como forma de manifestação e protesto. Confira o vídeo da entrevista 
Por: Joyci Medeiros

terça-feira, 2 de abril de 2019

Crítica de cinema: Uma Mulher Fantástica (2017), direção de Sebastián Lelio

Por Matheus Cirne

Descrição para cegos: cartaz do filme Uma Mulher fantástica, contendo a foto de perfil da atriz e protagonista Daniela Vega. Foto: Reprodução.


Uma Mulher Fantástica é uma produção chilena de 2017, dirigida por Sebastián Lelio e ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018. Traz a história de Marina Vidal (interpretada por Daniela Vega), uma jovem mulher trans que, de forma inesperada, se vê obrigada a lidar com a morte de Orlando (Francisco Reyes), seu companheiro, um homem hétero, cis e de meia-idade, que deixa para trás não somente Marina, mas uma ex-mulher e filhos.
Diante deste pano de fundo, a personagem, além de sentir o luto pela perda de seu namorado, passa a vivenciar uma sucessão de infortúnios. Estes, permeados de intolerância, pela ignorância e pelo preconceito, são motivados pelo fato de Marina ser uma mulher trans.
Neste sentido, a existência da personagem é negada por praticamente todos aqueles que pertencem ao universo do seu companheiro, que não a reconhecem como sua namorada. A presença de Marina passa a ser vista como um estorvo, um incômodo. Nega-se a ela o direito de continuar no apartamento de Orlando, de usar seu automóvel, de permanecer com sua cadela e, até mesmo, de comparecer ao seu velório.
O filme, nesta perspectiva, cumpre seu papel ao abordar de maneira extensa e cruel a realidade de muitas pessoas transexuais, que apenas pela sua existência, estão submetidas a uma série de situações de violência, sejam elas físicas ou psicológicas. Na trama, a violência sofrida por Marina é multifacetada, onipotente e institucionalizada, ocorrendo até mesmo no lugar em que deveria protegê-la, a polícia, quando por preconceito e falta de preparo, um policial insiste em chamá-la pelo seu nome de batismo, mesmo quando a mesma afirma se chamar Marina.
Ou ainda quando, ao levar Orlando ao hospital após seu mal súbito, tem que lidar com as perguntas inconvenientes e a desconfiança do médico do local, que passa a enxergá-la como suspeita da morte do namorado, além de não a reconhecer como mulher, nem como alguém que fazia parte da vida do homem que acabara de morrer.
Nota-se nestas cenas a constante necessidade não somente de Marina, mas das pessoas trans de provarem que existem, que estão aqui. Que podem e devem ocupar os mais variados espaços, de serem o que quiserem ser.
A fotografia atinge seu objetivo, ao fazer uso de cores mornas, sem vibração. Na maior parte do filme, utilizados tons de cinza, azuis escuros, verdes sóbrios, além do branco, produzindo uma paleta de cores que nos passa a ideia de luto, frieza, melancolia e angústia. Não obstante, nas cenas em que Marina está imersa em seus pensamentos, muitos deles no qual projeta uma realidade em que seu namorado ainda está vivo, percebemos o uso de cores mais fortes e vivas, como o vermelho, o roxo e o constante azul intenso, que transmitem fantasia, paixão e desejo.

Descrição para cegos: Marina, em um ambiente marcado por tons de cinza e branco, apresenta um olhar de desconfiança. Foto: Reprodução.
Marina é representada como uma mulher forte, independente e generosa, mas, ao mesmo tempo, desamparada e indefesa. São impiedosas as cenas em que a mesma não reage às violências verbais sofridas pela ex-mulher e pelo filho de seu falecido companheiro. Estes momentos de impotência não somente mostram a vulnerabilidade da personagem, mas abrem margem para se pensar a situação em que muitas pessoas trans estão inseridas na sociedade, sem apoio de amigos, da família e, em certas ocasiões, à margem do aparato protetor do Estado.
A feliz escolha de Daniela Vega para representar Marina Vidal fez toda a diferença. A atriz não somente se mostra competente nas cenas de maior densidade, mas também consegue se conectar perfeitamente com a narrativa e com sua personagem. É como se a Marina que está sendo vista nas telas fosse uma pessoa que existisse na nossa sociedade. E de fato existe. Quantas Marinas não existem no mundo real? Quantas não são submetidas a situações humilhantes e desumanas todos os dias?

Descrição para cegos: Marina, com roupas de festa, é fotografada sob jogo de luzes azuis. Foto: Reprodução.
Neste sentido, o diretor do filme atinge outro mérito, ao escalar uma atriz trans para viver uma personagem trans. Aliada à competência de Vega, este fator não somente aumenta a representatividade no universo do cinema, bem como torna a obra muito mais passível de identificação pelo público transexual.
Diante do exposto, Uma Mulher Fantástica adquire sua importância, não somente pela representatividade, que ganha ainda mais força devido à escassa produção cinematográfica do tema, mas por tudo que simboliza, reflete e retrata. Em toda sua delicadeza e crueldade, transmite com êxito as desventuras e angústias de Marina, uma mulher que nem ao menos teve o direito de viver o luto pela morte de seu namorado. Que a nossa sociedade esteja cada vez mais preparada para aceitar, respeitar, celebrar e conviver com as muitas Marinas, Dandaras, Laysas, Quellys e tantas outras mulheres fantásticas que sim, existem, têm voz e direitos.

Veja aqui o trailer:

Uma Mulher Fantástica - Trailer

segunda-feira, 1 de abril de 2019

A Homofobia também é Crime de Racismo

Para cego ver: Paulo Iotti  discursa ao microfone enquanto gesticula. Por: TV 247.

                                                                                                Por Matheus Cirne

Em entrevista concedida à TV 247, Paulo Iotti, advogado e autor das ações no Supremo Tribunal Federal (STF) que visam a criminalização da LGBTfobia, explica a razão pela qual os crimes de ódio contra os LGBT devem ser enquadrados como racismo. Iotti ainda comenta sobre quais os resultados de uma possível aprovação de suas ações no STF e argumenta porque não acredita que a criminalização da LGBTfobia afetará a liberdade religiosa.


Resenha: Pariah (2011), direção de Dee Rees

Fonte - Reprodução. Descrição para cegos: Laura (Pernell Walker), à esquerda, gesticula com as mãos enquanto discute com Alike (Adepero Oduye), à direita, no ônibus.

Por: Mariani Pontes

Escrito e dirigido pela proeminente cineasta Dee Rees, o longa-metragem “Pariah” (2011) narra a trajetória de auto descoberta e formação identitária de Alike (Adepero
Oduye), uma adolescente de 17 anos, negra e lésbica, que mora com sua família de classe média, tradicionalmente evangélica, em Fort Greene, Brooklyn. O filme aborda com grande sensibilidade, as experiências da personagem protagonista nos ambientes que ela ocupa, focando nos núcleos de sua comunidade, família e escola.


Cada espaço representa um âmbito de conflitos internos e externos, o relacionamento que uma jovem mulher negra estabelece com o mundo e o processo pessoal de sentir-se uma inadequada social. Trata-se de uma história reconhecível contada por uma perspectiva deliberadamente silenciada e isso é o que a distingue, tornando a obra tão especial. Enquanto que a estudante exemplar e talentosa escritora vivencia problemas análogos a vida de qualquer outra adolescente (como desilusões amorosas), seu transcurso de amadurecimento é particularizado pela excepcionalidade de se reconhecer a humanidade de uma mulher negra e de todas as possibilidades de sua existência.


Fonte - Reprodução. Descrição para cegos: Alike, à direita, mexe no cabelo de sua mãe, Audrey (Kim Wayans), à esquerda. As duas estão sorrindo.

É importante estar atento a esses espaços na trama, onde Alike se sente mais confortável e mais próxima de sua essência. Em casa ela defende, mesmo que de maneira silenciosa, sua sexualidade. Não há conflitos internos, mas a necessidade de esconder essa parte de si mesma a seus pais religiosos (Kim Wayans e Charles Parnell). A trama faz refletir até que ponto as frustrações de um indivíduo são realmente suas, o modo como se processa e absorve traumas, assim como o papel da projeção dos sentimentos de terceiros nos anos mais formativos de uma pessoa.

Dessa forma, pondera-se sobre o que é necessário para que se chegue, finalmente, numa fase de liberação e libertação. Imersa num cenário predominante afro-americano, a raça é um fator a ser notado na medida em que são avaliadas as relações intracomunais: a lesbofobia dentro da comunidade negra americana, os papéis de gênero e a misoginia. Essa potencialização de ameaças é capturada pelo magnetismo sereno da atuação de Oduye, que reflete no rosto a consciência de sua personagem.

O verdadeiro atrito internalizado de Alike diz respeito a expressar suas vontades, seus desejos, e como se proteger até a hora de se libertar, almejando uma conexão e um compromisso  com outra menina (Aasha Davis). Isso, por si só, é um ato de coragem: vestir e assumir a vulnerabilidade num espaço que já te vulnerabiliza de modo estrutural. O filme, que é semi-autobiográfico, traça paralelos com a vida da diretora Dee Rees,  que também possui suas próprias experiências de aceitação da sexualidade (Rees é lésbica), crescendo como uma mulher negra no sul dos Estados Unidos.