Por Marco Galindo
Sobre o comercial do dia dos
namorados do Boticário: vi uma galera pontuando o fato de que os casais
representados eram todos heteronormativos e classe média alta. Eu endosso a
crítica, acho que isso tem que ser problematizado sim. Mas se a gente parar e pensar,
antes de existir um padrão heternormativo para gays, existe um paradigma ainda
maior de heterossexualidade compulsória para todos, e isso é algo que essa
campanha busca quebrar - e com certo sucesso, visto que está incomodando as estruturas que devem ser incomodadas, como
certos fundamentalistas religiosos.
O Boticário não criou essa ação
publicitária a fim de ser uma defesa genuína dos direitos humanos, e sim porque
eles enxergam no discurso gay friendly uma forma de agregar valor aos seus
produtos, da mesma forma que a Globo o fez quando exibiu o beijo gay. No
entanto é ilógico dizer que a campanha não produz um efeito positivo ao tentar
naturalizar uma relação tão estigmatizada quanto a que existe entre duas
pessoas do mesmo sexo. Comerciais são feitos pra vender não só produtos, mas
ideias, e a ideia de que um casal homossexual é tão digno de respeito quanto um
heterossexual é algo que todos nós concordamos, certo?
Desconstrução é um processo lento que requer muita paciência. Eu adoraria que do dia pra noite todas as amarras fossem desfeitas e pudéssemos viver nossas sexualidades com completa liberdade, mas isso não vai acontecer, muito menos através da publicidade, que está 99% do tempo interessada em comércio - e menos ainda no Brasil, onde ainda existe bastante gente contra casamento igualitário e a favor de punição corretiva para homossexuais.
Não vamos perder o foco da luta -
o comercial é massa porque até pouco tempo atrás nós só tínhamos representação
heterossexual em propagandas, então existe avanço, o que não significa dizer
que devemos ficar deslumbrados com isso. E saibamos dar um passo de cada vez
pra acabar não dando passos pra trás.
*Nota do editor: este comentário foi publicado originalmente no Facebook, no dia 1º de junho.
*Nota do editor: este comentário foi publicado originalmente no Facebook, no dia 1º de junho.
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