terça-feira, 2 de junho de 2015

O Dia dos Namorados e a polêmica

Por Marco Galindo


Sobre o comercial do dia dos namorados do Boticário: vi uma galera pontuando o fato de que os casais representados eram todos heteronormativos e classe média alta. Eu endosso a crítica, acho que isso tem que ser problematizado sim. Mas se a gente parar e pensar, antes de existir um padrão heternormativo para gays, existe um paradigma ainda maior de heterossexualidade compulsória para todos, e isso é algo que essa campanha busca quebrar - e com certo sucesso, visto que está incomodando as estruturas que devem ser incomodadas, como certos fundamentalistas religiosos.
O Boticário não criou essa ação publicitária a fim de ser uma defesa genuína dos direitos humanos, e sim porque eles enxergam no discurso gay friendly uma forma de agregar valor aos seus produtos, da mesma forma que a Globo o fez quando exibiu o beijo gay. No entanto é ilógico dizer que a campanha não produz um efeito positivo ao tentar naturalizar uma relação tão estigmatizada quanto a que existe entre duas pessoas do mesmo sexo. Comerciais são feitos pra vender não só produtos, mas ideias, e a ideia de que um casal homossexual é tão digno de respeito quanto um heterossexual é algo que todos nós concordamos, certo?

Desconstrução é um processo lento que requer muita paciência. Eu adoraria que do dia pra noite todas as amarras fossem desfeitas e pudéssemos viver nossas sexualidades com completa liberdade, mas isso não vai acontecer, muito menos através da publicidade, que está 99% do tempo interessada em comércio - e menos ainda no Brasil, onde ainda existe bastante gente contra casamento igualitário e a favor de punição corretiva para homossexuais.
Não vamos perder o foco da luta - o comercial é massa porque até pouco tempo atrás nós só tínhamos representação heterossexual em propagandas, então existe avanço, o que não significa dizer que devemos ficar deslumbrados com isso. E saibamos dar um passo de cada vez pra acabar não dando passos pra trás.


*Nota do editor: este comentário foi publicado originalmente no Facebook, no dia 1º de junho.

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