sábado, 23 de abril de 2016

Quando o preconceito e a ignorância se revelam


Por Daiane Lima


Na última terça-feira, o astrólogo auto-intitulado filósofo e jornalista Olavo de Carvalho publicou a seguinte pérola em seu facebook: “Se o deputado Jair Bolsonaro não quer processar o cuspidor fujão para cassar-lhe o mandato, ele está no seu direito. Mas, como virtual candidato à presidência, ele não tem o direito de expor-se à possibilidade de contrair doença grave. Ele tem a obrigação de requerer à Justiça que force o deputado Jean Wyllys a submeter-se a exame para verificar se sua saliva não transmite o vírus da Aids.”
O “intelectual” se referia ao episódio ocorrido no domingo, na Câmara dos Deputados, quando o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) após dar o seu voto contrário ao impeachment, cuspiu no deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Segundo Jean Wyllys, motivado por palavras homofóbicas como “veado” e “boiola” proferidas pelo deputado do PSC no momento da votação.



Numa demonstração de preconceito e ignorância, Olavo de Carvalho insinua em sua publicação que todo gay (incluindo o deputado Jean Wyllys) tem/teria o vírus da Aids e que poderia transmiti-lo pela saliva. O que é um absurdo gigantesco. Além de desconhecer as formas de contágio do vírus, Olavo promove uma discriminação tamanha que reduz homossexuais às únicas pessoas portadoras do HIV quando, na verdade, heterossexuais também correm o mesmo risco.
De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/AIDS do Governo Federal, os casos de infecção pelo HIV registrados de 2007 a 2015 em indivíduos maiores de 13 anos de idade são: entre os homens, 45,6% tiveram exposição homossexual, 39,4% heterossexual e 10,1% bissexual; entre as mulheres, 96,4% dos casos se inserem na categoria de exposição heterossexual. Ou seja, todos estão suscetíveis à doença e, além disso, o grupo mais vulnerável é o de mulheres heterossexuais.
A associação da homossexualidade à AIDS é uma coisa perigosa. É uma ideia estigmatizada, que foi combatida desde o início da epidemia da doença e até hoje tenta ser desconstruída. Uma atitude como esta inferioriza, diminui, julga. É uma forma de rotular. Assim como palavras pejorativas direcionadas à população gay, que ferem, desnudam, destroem. É preciso mais informação, mais respeito, mais tolerância, menos preconceito e mais amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário será publicado em breve.