Por Matheus Wendell
Bicha,
travesti, periférica, preta. É assim que MC Linn da Quebrada se define.
Palavras dotadas de excessiva carga negativa, na sua poesia ganham
ressignificados, e são para ela sinônimos de empoderamento, força e
desconstrução.
Linn
faz parte de uma geração na música brasileira atual que tem unido arte e
militância. E foi justamente o funk, gênero extremamente subestimado e deixado
de lado pela crítica musical, que ela escolheu para narrar suas vivências e a
de tantas outras que se identificam com ela. Vivências essas que são
marginalizadas, que não se encontram nas novelas, séries, publicidade, nem na
própria música. E quando retratadas, vêm em tom jocoso, de piada, escárnio.
A
artista, tanto em suas letras quanto em sua postura política, vem para levantar
a discussão sobre gênero, sexualidade e raça. Os papéis socialmente construídos
em torno do masculino e do feminino, a supremacia do homem-hétero-branco-cisgênero,
a segregação que acontece dentro do próprio meio LGBT.
Linn
representa as travestis, as trans, as bichas afeminadas. Sua arte simboliza
invasão, ocupação, resistência e desnaturalização. Um ode ao feminino, independentemente
do corpo onde é encontrado. Corpos que, nas palavras da própria cantora, podem
ter “pau ou boceta”.
Na
letra da música Enviadescer, ela fala “eu gosto mesmo é das bixa, das que são
afeminadas, das que mostram muita pele, rebolam, saem maquiada” e a canção
serve como um grande tapa na cara dos gays heteronormativos que enchem os
aplicativos de relacionamento com a famosa frase “não sou nem curto
afeminados”. A cantora, sem medo, toca na ferida e expõe toda a ignorância e
preconceito que infelizmente existe entre os gays.
Criada
entre o interior e a periferia de São Paulo, a MC também foi Testemunha de Jeová,
até ser expulsa da igreja aos 17 anos, quando estava descobrindo sua
transexualidade.
Seus
dois videoclipes, Enviadescer e Talento, juntos somam mais de quatrocentas
mil visualizações. Neste ano ela se apresentou na São Paulo Fashion Week e também vai estar presente no documentário Meu Corpo é Político, que mostra o
cotidiano de quatro militantes TLGB que vivem em periferias de São Paulo. O
filme terá premiere mundial no Visions Du
Reel, festival de cinema que acontece agora em abril, na Suíça.
Linn
da Quebrada esteve presente na última edição do SP-Arte- Festival Internacional
de Arte de São Paulo, que aconteceu no início do mês. No evento, ela lançou blasFêmea, primeira obra audiovisual em
que assina o roteiro e direção. O vídeo de 10:18 min evoca o poder do feminino,
a sororidade entre todas elas (trans, travestis e cisgêneras), a demolição da
hegemonia masculina, além de fazer uma reflexão sobre a violência que mulheres
sofrem todos os dias nas ruas. Atualmente, a artista se encontra na fase de pré-produção
de seu primeiro álbum, “Pajubá”.
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