quinta-feira, 27 de abril de 2017

Eu gosto mesmo é das bixa, das que são afeminada!

Descrição para cegos: artista e militante TLGB MC Linn da Quebrada aparece de perfil na foto com fundo preto. Ela está usando um colar em formato de corrente e tem o rosto e o pescoço maquiados com purpurina.


Por Matheus Wendell

Bicha, travesti, periférica, preta. É assim que MC Linn da Quebrada se define. Palavras dotadas de excessiva carga negativa, na sua poesia ganham ressignificados, e são para ela sinônimos de empoderamento, força e desconstrução.
Linn faz parte de uma geração na música brasileira atual que tem unido arte e militância. E foi justamente o funk, gênero extremamente subestimado e deixado de lado pela crítica musical, que ela escolheu para narrar suas vivências e a de tantas outras que se identificam com ela. Vivências essas que são marginalizadas, que não se encontram nas novelas, séries, publicidade, nem na própria música. E quando retratadas, vêm em tom jocoso, de piada, escárnio.
A artista, tanto em suas letras quanto em sua postura política, vem para levantar a discussão sobre gênero, sexualidade e raça. Os papéis socialmente construídos em torno do masculino e do feminino, a supremacia do homem-hétero-branco-cisgênero, a segregação que acontece dentro do próprio meio LGBT.
Linn representa as travestis, as trans, as bichas afeminadas. Sua arte simboliza invasão, ocupação, resistência e desnaturalização. Um ode ao feminino, independentemente do corpo onde é encontrado. Corpos que, nas palavras da própria cantora, podem ter “pau ou boceta”.
Na letra da música Enviadescer, ela fala “eu gosto mesmo é das bixa, das que são afeminadas, das que mostram muita pele, rebolam, saem maquiada” e a canção serve como um grande tapa na cara dos gays heteronormativos que enchem os aplicativos de relacionamento com a famosa frase “não sou nem curto afeminados”. A cantora, sem medo, toca na ferida e expõe toda a ignorância e preconceito que infelizmente existe entre os gays.
Criada entre o interior e a periferia de São Paulo, a MC também foi Testemunha de Jeová, até ser expulsa da igreja aos 17 anos, quando estava descobrindo sua transexualidade.
Seus dois videoclipes, Enviadescer e Talento, juntos somam mais de quatrocentas mil visualizações. Neste ano ela se apresentou na São Paulo Fashion Week e também vai estar presente no documentário Meu Corpo é Político, que mostra o cotidiano de quatro militantes TLGB que vivem em periferias de São Paulo. O filme terá premiere mundial no Visions Du Reel, festival de cinema que acontece agora em abril, na Suíça. 
Linn da Quebrada esteve presente na última edição do SP-Arte- Festival Internacional de Arte de São Paulo, que aconteceu no início do mês. No evento, ela lançou blasFêmea, primeira obra audiovisual em que assina o roteiro e direção. O vídeo de 10:18 min evoca o poder do feminino, a sororidade entre todas elas (trans, travestis e cisgêneras), a demolição da hegemonia masculina, além de fazer uma reflexão sobre a violência que mulheres sofrem todos os dias nas ruas. Atualmente, a artista se encontra na fase de pré-produção de seu primeiro álbum, “Pajubá”.

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