sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Histórias e preconceitos no Dia da Visibilidade Bissexual

Descrição para cegos: bandeira do orgulho bissexual tremulando em espaço aberto. Ela tem três faixas horizontais sendo largas em cima e embaixo e estreita no centro. 
Por Laianna Janu

Desde 1999, 23 de setembro é o Dia da Visibilidade Bissexual. A data foi criada por três ativistas dos direitos bissexuais dos Estados Unidos: Wendy Curry, Gigi Raven e Michael Page - o também designer da bandeira bissexual que foi desenvolvida um ano antes, em 1998, com intuito de dar à comunidade bi o seu próprio símbolo. Na bandeira, a faixa rosa representa a atração sexual pelo mesmo sexo; a faixa azul embaixo, a atração sexual pelo sexo oposto, e, no centro, o lilás, combinação das duas outras cores, representa a atração sexual por ambos os sexos.

        Para dois amigos bissexuais, que aqui chamaremos de Maria e José, é muito importante ter um dia para comemorar e debater a visibilidade bissexual sem nenhuma associação a outras pessoas da comunidade LGBT.
        - Acredito que é super complicado ter um dia da visibilidade lésbica e da mulher bissexual, porque apesar de mantermos uma relação lésbica quando estamos com outras mulheres, não somos lésbicas - afirmou Maria.
        A comunidade bissexual costuma ser alvo de preconceitos bem específicos, denominado bifobia. Esses preconceitos também são diferentes para os homens e as mulheres bi. É o que contam os dois amigos.
- Faz pouco tempo que me identifiquei enquanto bissexual. Muitas das minhas amigas são bi e acho que por isso não sofri tanta bifobia no meio em que convivo, mas já ouvi muitos preconceitos relacionados à 'nossa' promiscuidade - relatou Maria. José também contou ter ouvido colegas comentarem sobre uma infidelidade das e dos bissexuais, mas acrescentou que também escuta “piadas” de amigos gays quando “volta” a sair com mulheres como quem “volta para o armário”.
De todos esses preconceitos, Maria acredita que o pior seja o da indecisão. “Passamos um bom tempo nos relacionando apenas com pessoas do sexo oposto e nos identificamos como héteros. Quando nos damos conta que também temos atração e desejo por pessoas no mesmo sexo já começamos a pensar que somos gays ou, no meu caso, lésbicas. Daí para entendermos que na verdade gostamos dos dois, demora certo tempo. E, no fim disso tudo, ainda querem dizer que o que somos é indecisas e indecisos”.
        Quando se declarou à mãe enquanto bi, José ouviu insultos de que era um depravado e, no fim das contas, um doente mental. “Sou incentivado pela minha mãe a manter relações apenas com mulheres para pegar menos mal", disse.
        Além dos preconceitos sofridos fora da comunidade LGBT, os amigos relatam que também sofrem dentro de espaços auto-organizados. "Sempre é complicado ouvir ‘piadinhas’ e deslegitimação, mas é muito pior quando parte de pessoas da sigla, que também sofrem preconceitos relacionados à sua sexualidade e se propõem a se desconstruir dos padrões impostos", desabafou Maria.
        José ainda relembrou um acontecimento que acabou lhe marcando de negativamente. "Num espaço político vi um cara puxar um grito contra o preconceito com gays, lésbicas e trans, 'pulando' a letra 'B' sem problemas como se não existíssemos ou se já estivéssemos inclusos e inclusas nas outras letras. Mas não estava! Eu me senti deslegitimado".
        Por todas essas dificuldades, os dois não conseguiram encontrar espaço para uma militância junto com toda a comunidade LGBT. Além disso, outra problemática ainda atinge Maria: “sinto dificuldade para me engajar politicamente, pois o movimento auto-organizado dos e das bissexuais acaba reproduzindo um machismo que me incomoda", contou.
        Por todas essas questões, a visibilidade bissexual, e esse seu dia celebração que já se comemora há 17 anos, precisa ser muito mais divulgados e debatidos para que a comunidade bi não sofra deslegitimação da sua identidade.

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