Por Laianna Janu
Ok! Você concorda que as pessoas podem fazer parte da comunidade LGBT
desde que seja bem, mas muito bem, longe de seu entorno. Mas, e se essa pessoa
for alguém que você, obrigatoriamente, precisa "suportar" por perto,
o que fazer? Se for, por exemplo, um professor, você vai trancar a disciplina
até que ocorra a mudança do docente?
Essa questão pode parecer boba, mas
mostra a importância da representatividade em todos os lugares e âmbitos
sociais, pois a mera presença é pedagógica.
Roberto Efrem Filho– ou Beto –, professor
do Departamento de Ciências Jurídicas da UFPB, conta um pouco sobre ser
"uma bicha comunista" na faculdade de Direito:
- Eu nunca tive professor gay ou
professora lésbica na minha época de graduando. Nós (alunos e alunas) até
sabíamos, ou desconfiávamos ou já tínhamos ouvido fofocas. Mas a denominação
dentro da sala de aula e no espaço universitário não acontecia.Não havia a
identidade e, portanto, não havia a disputa política daquele espaço com uma
maior concretude.
Quando entendi que dizer que eu era ‘casado
com um homem’ na sala de aula em um exemplo de algum assunto que abordava no
meu ensino de direito, como a união estável de pessoas do mesmo sexo, eu
percebi que isso gerava efeitos naquele cenário e, por conseqüência, produzia
disputa.
Ser professor e ‘bicha’ na universidade
tem a ver com a possibilidade e a oportunidade de designar essa condição e
fazer política através dela e dessa construção de sujeito.
Hoje brinco em sala de aula dizendo: ‘Vocês
têm um professor que é veado e comunista’, mas falar sobre isso com a devida
seriedade ou até mesmo em tom de brincadeira produz uma disputa política.
A mera presença é pedagógica, pois se
cria um redimensionamento deste sujeito como aquele que fala. O ou a estudante
pode até ser daqueles(as) que ignoram ou pretendem sonegar a presença e o
direito da comunidade LGBT, mas quando o veado que ele conhece é aquele que
será seu professor e vai dar aula com seriedade e sem faltas há um
redimensionamento de valor. Falar sobre isso é importante.
Hoje já existem muito mais sujeitos e sujeitas
LGBTs na Universidade e, comparado a minha época de estudante, sinto que as
chacotas e piadas nesses espaços não são mais tão freqüentes.
Acredito que por essas mudanças e por
ocupar atualmente um lugar de ‘autoridade’ na sala de aula, eu vivi muito menos
essa discriminação.
No entanto, na estrutura da
universidade ainda existe uma série de discriminações que dificultam a ocupação
de espaço de um ‘veado’ ou qualquer pessoa pertencente à sigla.
Apesar
dos obstáculos ainda encontrados diariamente pela comunidade LGBT, o mundo, a
partir dessa ocupação de espaços, dá sinais de que a representatividade e as
ações de enfrentamento importam e impactampara o fim desta nova – e, o mais
rápido possível, ultrapassada – palavra: LGBTfobia.
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