domingo, 25 de setembro de 2016

Representatividade importa! Relatos de um Beto

Descrição para cegos: No lado direito da foto temos Roberto, de camisa xadrez azul e branca e com casaco listrado preto e cinza por cima. Ele usa óculos, barba e posa sério na frente de uma parede branca com poemas.
Por Laianna Janu

Ok! Você concorda que as pessoas podem fazer parte da comunidade LGBT desde que seja bem, mas muito bem, longe de seu entorno. Mas, e se essa pessoa for alguém que você, obrigatoriamente, precisa "suportar" por perto, o que fazer? Se for, por exemplo, um professor, você vai trancar a disciplina até que ocorra a mudança do docente?
        Essa questão pode parecer boba, mas mostra a importância da representatividade em todos os lugares e âmbitos sociais, pois a mera presença é pedagógica.

        Roberto Efrem Filho– ou Beto –, professor do Departamento de Ciências Jurídicas da UFPB, conta um pouco sobre ser "uma bicha comunista" na faculdade de Direito:
        - Eu nunca tive professor gay ou professora lésbica na minha época de graduando. Nós (alunos e alunas) até sabíamos, ou desconfiávamos ou já tínhamos ouvido fofocas. Mas a denominação dentro da sala de aula e no espaço universitário não acontecia.Não havia a identidade e, portanto, não havia a disputa política daquele espaço com uma maior concretude.
Quando entendi que dizer que eu era ‘casado com um homem’ na sala de aula em um exemplo de algum assunto que abordava no meu ensino de direito, como a união estável de pessoas do mesmo sexo, eu percebi que isso gerava efeitos naquele cenário e, por conseqüência, produzia disputa.
Ser professor e ‘bicha’ na universidade tem a ver com a possibilidade e a oportunidade de designar essa condição e fazer política através dela e dessa construção de sujeito.
Hoje brinco em sala de aula dizendo: ‘Vocês têm um professor que é veado e comunista’, mas falar sobre isso com a devida seriedade ou até mesmo em tom de brincadeira produz uma disputa política.
A mera presença é pedagógica, pois se cria um redimensionamento deste sujeito como aquele que fala. O ou a estudante pode até ser daqueles(as) que ignoram ou pretendem sonegar a presença e o direito da comunidade LGBT, mas quando o veado que ele conhece é aquele que será seu professor e vai dar aula com seriedade e sem faltas há um redimensionamento de valor. Falar sobre isso é importante.
Hoje já existem muito mais sujeitos e sujeitas LGBTs na Universidade e, comparado a minha época de estudante, sinto que as chacotas e piadas nesses espaços não são mais tão freqüentes.
Acredito que por essas mudanças e por ocupar atualmente um lugar de ‘autoridade’ na sala de aula, eu vivi muito menos essa discriminação.
No entanto, na estrutura da universidade ainda existe uma série de discriminações que dificultam a ocupação de espaço de um ‘veado’ ou qualquer pessoa pertencente à sigla.

        Apesar dos obstáculos ainda encontrados diariamente pela comunidade LGBT, o mundo, a partir dessa ocupação de espaços, dá sinais de que a representatividade e as ações de enfrentamento importam e impactampara o fim desta nova – e, o mais rápido possível, ultrapassada – palavra: LGBTfobia.

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