Descrição para cegos: Ayune posa séria para foto tirada por uma câmera frontal. Ela é negra, usa grandes brincos e o cabelo liso, comprido e solto. |
Por Laianna Janu
Para
abrir esta série de textos sobre visibilidade e representatividade trans de
estudantes da UFPB, trazemos uma entrevista com a militante, aluna de
Engenharia de Energias Renováveis e mulher trans, Ayune Bezerra.
Ela participou
da primeira turma de Jovens Lideranças - curso do Departamento de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais – como estudante e na
terceira turma voltou já como facilitadora, onde lidera o GT de Juventude
juntamente com o Força Tarefa Jovem da Unaids, Programa Conjunto das Nações
Unidas sobre HIV/AIDS. Ayune também foi diretora
de Promoções de Políticas Públicas para População LGBT do município de Santa
Rita e hoje faz parte da Associação do Movimento de Mulheres Trans da Paraíba.
Com
todo esse histórico de luta e ativismo, Ayune contou um pouco sobre transfobias,
avanços e conceitos, como o da passabilidade. Assemelhando-se ao colorismo racial,
na passabilidade alguns e algumas também sofrem mais e de maneira diversa a
transfobia do que outros e outras, sempre de acordo com as características
físicas normativas da sociedade. Ou seja, quanto mais difícil se “passar” por alguém
que se identificam com seu sexo biológico, os cisgêneros, mais preconceito essa
pessoa trans vai sofrer.
Para
Ayune, é bem mais rápido o processo de transgressão de um gênero para o outro
no caso dos homens trans: “Para eles nada vai se construir, o que acontece é a
desconstrução da feminilidade. É bem mais rápido cortar o cabelo do que
deixá-lo crescer e com o processo de hormônio-terapia é bem mais simples passar
a ter barba do que perdê-la. Assim, os homens trans logo se assemelham mais e
'se passam' por homens cis".
Com as mulheres trans não é bem assim e, para Ayune,
declara-se transexual é um ato político. “Há tempos as mulheres trans lutam por
sua categoria e por políticas públicas fazendo questão de se diferenciar dos
homens gays, até pela própria aparência, pelas vestes, cabelos, maquiagens e
produções com salto. Então as travestis vêm estudando, se empoderando e se
impondo enquanto identidade feminina. Astrapa, Associação de Travestis e
Transexuais da Paraíba da qual faço parte, diz até também possuir um nome
social, um nome ao qual nos identificamos ainda mais, que é Coletivo
Transfeminista, pois trabalhamos questões de gênero, feminismo e identidade de
forma praticamente pioneira no Brasil”.
Para
nossa entrevistada, também é um ato político a utilização do termo travesti. “Aos
olhos da sociedade, travesti é aquela que rouba, que usa grandes silicones
industriais, que não tem família, que é prostituta, é aquela pessoa que 'não
presta'. Para higienizar a imagem dessa travesti foi criado o termo transexual,
que é uma pessoa que transita de um gênero para o outro, mas já é mais 'limpa',
fora da marginalidade, educada e instruída. Como forma de uso político, muitas
mulheres trans passaram a se identificar como travestis mesmo, a fim de se
afirmar com um termo anteriormente utilizado de maneira pejorativa".
Apesar de alguns avanços, ainda persiste um inegável
preconceito a todas essas mulheres. “Nossa cidade (João Pessoa) foi a primeira
capital a decretar a lei do nome social, tornando a escolha do novo nome que
não causa constrangimento em um nome civil, mas a legislação está muito
atrasada. Atualmente, nós conseguimos trocar de nome sim, em alguns lugares com
mais burocracias do que outros, mas trocamos. Entretanto, o nome que deve
garantir minha cidadania eu não consigo trocar para meu bem estar. A troca
é feita pelo mal que nos é causado e não pelo bem que nos é favorecido. Hoje,
esperamos a aprovação do PL (projeto de lei)de Jean Willys, que garantirá a
troca de nome e também de gênero em todos os documentos oficiais, até certidão
de casamento e de maternidade/paternidade” –encerra nossa protagonista com
grandes esperanças para o futuro. Também temos Ayune. Estamos juntos e juntas!
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