Descrição para cegos: sentado, Renato sorri para a foto. Ele não tem barba, tem cabelos curtos e veste camisa branca do seu curso atual, Biologia. |
Por Laianna Janu
Nosso protagonista de
agora está em transição há apenas quatro meses e nesse mesmo período vem
atuando no Petris, Coletivo de Homens Trans da Paraíba, que acolhe e
compartilha experiências com os homens que estão iniciando seu processo de
transição.
Vivenciando
a experiência de uma grande parcela da comunidade LGBT, Renato foi expulso de
casa ao se declarar para a família. Na época, com 18 e ainda se identificando
como mulher lésbica, ele passou um ano mudando para onde recebesse abrigo, como
a casa dos colegas. Hoje divide um lugar com um amigo, mas sobrevive apenas com
bolsas da universidade e não conta com nenhum auxílio, pois seus responsáveis
são da cidade.
-
Primeiro rompi em casa a barreira da sexualidade para só depois romper a
barreira da identidade de gênero. Até hoje minha mãe me chama pelo nome civil,
mas ela e o meu irmão são as únicas pessoas que deixo.
Com essa realidade,
Renato acabou atrasando o curso, pois precisou trabalhar. Contudo, seus alunos
do ensino médio acompanharam sua transição e foram mais compreensíveis do que
seus professores doutores da universidade. Devido a todas essas situações, ele
desistiu do curso e vai começar uma nova vida acadêmica em Letras, que sempre
foi sua segunda paixão.
E
por falar em paixão, nosso entrevistado disse ainda existir um grande embaraço na
diferenciação entre sexualidade e identidade de gênero por parte de muitos, até
porque três letras da sigla (LGB) referem-se à orientação sexual, enquanto apenas
uma à identidade. Também por isso, muitas pessoas criam uma negação em se
relacionar com alguém que é trans, mesmo tendo sentido interesse antes de saber
desse processo de readequação de gênero. Assim, Renato disse usar essa recusa
como um “filtro” para saber em quem “investir” ou não.
Segundo
Renato, são comuns as relações amorosas entre trans, porque ambos passaram pelos
mesmos processos e entendem melhor um ao outro.
Renato
conta que sentiu muita dificuldade dos amigos no começo da transição porque
sempre tinha sido uma pessoa lesbo e transfóbica: “Sei que muito do meu
preconceito estava ligado a minha educação conservadora e minha não aceitação
também. Quando apareci falando para eles sobre todas minhas transformações
fiquei como um contraditório, mas agora as coisas já estão se acertando e eles
estão me entendendo cada vez mais”.
Outro
obstáculo que ele enfrenta está na adaptação ao tratamento hormonal: “Digo que
agora estou entrando na puberdade de novo, devido a essas injeções de
hormônios. São indecisões, agressividade, fome, espinhas etc. Tudo voltando a
aflorar só que agora eu tenho consciência disso”.
Além
das agruras sociais, tem ainda as complicações na saúde que esse tratamento
pode causar: “Os hormônios que a gente toma são feitos para homens que estão na
andropausa e têm como contra-indicação o uso para mulheres, pois pode causar
câncer nos ovários. Esse é um risco real de saúde que a gente corre, mas não
temos muitas outras opções, pois os hormônios menos agressivos custam dez vezes
mais”.
A respeito do movimento
de homens transexuais, ele acredita
que um fator que influenciou a dependência desses sujeitos a outra luta foi o
fato de serem criados como meninas, que recebem educação para serem muito mais
calmas e pacatas.
Apesar das reviravoltas
nos últimos anos e, especificamente nos últimos meses, Renato vem se mostrando
forte diante da nova realidade que enfrenta:
- Sei que a passabilidade é maior para os homens do que para as mulheres, por isso faço
questão de dar minha cara e aparecer para lutar junto com as meninas. Tenho
colegas que preferem esconder que são trans, mas eu não, não tenho problema em
falar disso, mas percebo diferenças quando essa realidade vem à tona. Meninas
se desinteressam e pessoas passam a utilizar os pronomes femininos de uma hora
para outra.
- Por
conta disso, para falar mais dessa realidade e para mostrar meu processo de
transição para as pessoas que estão longe de mim, criei um canal do YouTube.
Contando um pouco da minha experiência há três meses já recebi mensagens de
pessoas desconhecidas e até conhecidas que estava ajudando também no seu
processo de transição. Alguém com que eu não falava sobre o assunto, pela
plataforma do YouTube consegui conversar e hoje ele passa pela transição junto
comigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado em breve.