quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

#Representrans: Renato Guimarães

Descrição para cegos: sentado, Renato sorri para a foto. Ele não tem barba, tem cabelos curtos e veste camisa branca do seu  curso atual, Biologia.
Por Laianna Janu

Nosso protagonista de agora está em transição há apenas quatro meses e nesse mesmo período vem atuando no Petris, Coletivo de Homens Trans da Paraíba, que acolhe e compartilha experiências com os homens que estão iniciando seu processo de transição.
        Vivenciando a experiência de uma grande parcela da comunidade LGBT, Renato foi expulso de casa ao se declarar para a família. Na época, com 18 e ainda se identificando como mulher lésbica, ele passou um ano mudando para onde recebesse abrigo, como a casa dos colegas. Hoje divide um lugar com um amigo, mas sobrevive apenas com bolsas da universidade e não conta com nenhum auxílio, pois seus responsáveis são da cidade.


- Primeiro rompi em casa a barreira da sexualidade para só depois romper a barreira da identidade de gênero. Até hoje minha mãe me chama pelo nome civil, mas ela e o meu irmão são as únicas pessoas que deixo.
Com essa realidade, Renato acabou atrasando o curso, pois precisou trabalhar. Contudo, seus alunos do ensino médio acompanharam sua transição e foram mais compreensíveis do que seus professores doutores da universidade. Devido a todas essas situações, ele desistiu do curso e vai começar uma nova vida acadêmica em Letras, que sempre foi sua segunda paixão.
E por falar em paixão, nosso entrevistado disse ainda existir um grande embaraço na diferenciação entre sexualidade e identidade de gênero por parte de muitos, até porque três letras da sigla (LGB) referem-se à orientação sexual, enquanto apenas uma à identidade. Também por isso, muitas pessoas criam uma negação em se relacionar com alguém que é trans, mesmo tendo sentido interesse antes de saber desse processo de readequação de gênero. Assim, Renato disse usar essa recusa como um “filtro” para saber em quem “investir” ou não.
Segundo Renato, são comuns as relações amorosas entre trans, porque ambos passaram pelos mesmos processos e entendem melhor um ao outro.
        Renato conta que sentiu muita dificuldade dos amigos no começo da transição porque sempre tinha sido uma pessoa lesbo e transfóbica: “Sei que muito do meu preconceito estava ligado a minha educação conservadora e minha não aceitação também. Quando apareci falando para eles sobre todas minhas transformações fiquei como um contraditório, mas agora as coisas já estão se acertando e eles estão me entendendo cada vez mais”.
        Outro obstáculo que ele enfrenta está na adaptação ao tratamento hormonal: “Digo que agora estou entrando na puberdade de novo, devido a essas injeções de hormônios. São indecisões, agressividade, fome, espinhas etc. Tudo voltando a aflorar só que agora eu tenho consciência disso”.
        Além das agruras sociais, tem ainda as complicações na saúde que esse tratamento pode causar: “Os hormônios que a gente toma são feitos para homens que estão na andropausa e têm como contra-indicação o uso para mulheres, pois pode causar câncer nos ovários. Esse é um risco real de saúde que a gente corre, mas não temos muitas outras opções, pois os hormônios menos agressivos custam dez vezes mais”.
A respeito do movimento de homens transexuais, ele acredita que um fator que influenciou a dependência desses sujeitos a outra luta foi o fato de serem criados como meninas, que recebem educação para serem muito mais calmas e pacatas.
Apesar das reviravoltas nos últimos anos e, especificamente nos últimos meses, Renato vem se mostrando forte diante da nova realidade que enfrenta:
        - Sei que a passabilidade é maior para os homens do que para as mulheres, por isso faço questão de dar minha cara e aparecer para lutar junto com as meninas. Tenho colegas que preferem esconder que são trans, mas eu não, não tenho problema em falar disso, mas percebo diferenças quando essa realidade vem à tona. Meninas se desinteressam e pessoas passam a utilizar os pronomes femininos de uma hora para outra.
- Por conta disso, para falar mais dessa realidade e para mostrar meu processo de transição para as pessoas que estão longe de mim, criei um canal do YouTube. Contando um pouco da minha experiência há três meses já recebi mensagens de pessoas desconhecidas e até conhecidas que estava ajudando também no seu processo de transição. Alguém com que eu não falava sobre o assunto, pela plataforma do YouTube consegui conversar e hoje ele passa pela transição junto comigo.

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