segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Vida

Descrição para cegos: O desenho mostra um rapaz ajoelhado em frente a seu namorado, um cadeirante. Eles estão quase se beijando.
Desenho: Ivana Alves 

Por Robson Martins

Foram os teus beijos.
O encontro de lábios que derrubou preconceitos e levou consigo qualquer dúvida que pudesse existir em mim. Agora, homens já se beijavam.
Foram os teus sorrisos.
Tua alegria me fez esquecer as muralhas que existiam em mim. Religião, família e toda a sociedade não me impediriam de ser feliz. Sem prisões. Livre.
Foram os teus olhos.
Esses, quase sempre cheios de lágrimas a me ver, me hipnotizaram. Levaram-me a lugares altos. Águia. Elevaram-me. E assim, pude me conhecer por completo.

Foram as tuas pernas.
Que sabiamente, sempre em silêncio e paralisadas, impulsionaram as minhas. Revolucionaram meu ser. Comecei a perceber o valor dos movimentos e todos os músculos do meu corpo. Vivo.
Foram as tuas mãos.
Levantaram-me do chão frio e solitário onde eu vivia. Acariciam-me e me fazem dormir. Além do físico. Acolhedoras.
Foi o teu coração.
Que mesmo imenso é humilde. Sabe doar-se e negar-se para ser feliz. Emana amor. Valente. Sempre em busca dos seus sonhos. Inspiração.
Foi você.
É você.
Será você.
Por isso, minha Vida, não esqueça do poder que tens. Não desista. Assim como me mudastes, mudarás a muitos. Não existe deficiência. É apenas uma cadeira grilhão. Quebre-a e ganhe o mundo.

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