Descrição para cegos: pintura em aquarela da artista plástica Lívia Costa que mostra apenas metade de um rosto em que se veem traços femininos e masculinos |
Por Laianna Janu
Uma transexual baiana é alvo de
preconceitos e indigna-se. Ela não é obrigada a aceitar aquela situação. Revida
xingamentos hostis por andar de mãos dadas com seu companheiro em uma praça
pública, porque para os outros, ali “é um ambiente familiar”. E ela “não é de
família”. Mas o preconceito parece não ser ofensivo o suficiente.
A transexual passa de volta na praça,
agora sozinha. Pessoas que dizem “ser de família” armam uma emboscada. Ela, que
é julgada não pertencer àquele ambiente, é agredida. Ela é esfaqueada. Mas o
ódio parece não ser ofensivo o suficiente.
A transexual chega ao hospital. Coberta
de sangue ela só consegue ficar deitada no chão. Ela chama, grita e clama por
ajuda. Nenhuma assistência chega de imediato. Mas omissão de socorro em nível
emergencial parece não ser ofensiva o suficiente.
Enquanto não recebe assistência ela é
agredida. Sem forças, ela leva tapas na cara. Num mar vermelho em meio ao corredor
branco, pessoas desviam do seu corpo esfaqueado. As que param são apenas
aquelas que ainda precisam lhe dar uma “lição de moral”. Mas a “lição” parece
nunca ser suficiente.
E quando seria? Com a sua morte? Morte
de corpo ou de alma? Ou viver presa em um corpo que não é o seu também não
seria falecer?
Felizmente, hoje, ela já passa bem. Mas
até quando? Até quando ela mesma ou outras e outros serão alvos de crimes, já
que viver a própria vida como deseja e querer apenas o respeito são tidos como
pedidos autossuficiente por demais.
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