sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Se pedir respeito é demais…

Descrição para cegos: pintura em aquarela da artista plástica Lívia Costa que mostra apenas metade de um rosto em que se veem traços femininos e masculinos
Por Laianna Janu

Uma transexual baiana é alvo de preconceitos e indigna-se. Ela não é obrigada a aceitar aquela situação. Revida xingamentos hostis por andar de mãos dadas com seu companheiro em uma praça pública, porque para os outros, ali “é um ambiente familiar”. E ela “não é de família”. Mas o preconceito parece não ser ofensivo o suficiente.

A transexual passa de volta na praça, agora sozinha. Pessoas que dizem “ser de família” armam uma emboscada. Ela, que é julgada não pertencer àquele ambiente, é agredida. Ela é esfaqueada. Mas o ódio parece não ser ofensivo o suficiente.
A transexual chega ao hospital. Coberta de sangue ela só consegue ficar deitada no chão. Ela chama, grita e clama por ajuda. Nenhuma assistência chega de imediato. Mas omissão de socorro em nível emergencial parece não ser ofensiva o suficiente.
Enquanto não recebe assistência ela é agredida. Sem forças, ela leva tapas na cara. Num mar vermelho em meio ao corredor branco, pessoas desviam do seu corpo esfaqueado. As que param são apenas aquelas que ainda precisam lhe dar uma “lição de moral”. Mas a “lição” parece nunca ser suficiente.
E quando seria? Com a sua morte? Morte de corpo ou de alma? Ou viver presa em um corpo que não é o seu também não seria falecer?

Felizmente, hoje, ela já passa bem. Mas até quando? Até quando ela mesma ou outras e outros serão alvos de crimes, já que viver a própria vida como deseja e querer apenas o respeito são tidos como pedidos autossuficiente por demais.

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