Descrição para cegos: Na imagem
encontra-se Chico Buarque com a bandeira símbolo da diversidade sexual
sobreposta à sua imagem.
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Por
Ewerton Correia
“Joga
pedra na Geni! Joga bosta na Geni! Ela é feita pra apanhar! Ela é boa de
cuspir!”. Esse é um dos pontos altos de uma das músicas de maior sucesso de
Chico Buarque de Hollanda, que já nos anos 70 denunciava a hipocrisia da
sociedade perante a diversidade sexual e a prostituição.
A
tal Geni nasceu Genilvaldo. A obra musical criada para a peça Ópera do Malandro, de 1977, retratava
uma travesti humilhada pelo povo da cidade onde o enredo é destrinchado. Ela
era vista como imunda e sem dignidade até que um Zepelin ameaça explodir a
cidade. Para não atacar, o comandante da nave pede uma noite de prazeres com
Geni.
Neste
trecho da música, Chico busca retratar a mudança imediata de comportamento dos
mesmos cidadãos que atiravam pedra em Geni. “Vai com ele, vai, Geni! Vai com
ele, vai, Geni! Você pode nos salvar. Você vai nos redimir. Você dá pra
qualquer um. Bendita Geni!”
Chico
Buarque inova com diversidade e riqueza numa métrica musical diferenciada. Por
coincidência ou não, a música foi lançada nos anos 70, mesma década em que o
Movimento LGBT começa a ganhar força no país ainda sem a sigla formada, uma vez
que travestis só aderiram ao movimento nos anos 90. Assim, o cantor e
compositor mostra-se firme ao defender o direito das minorias e ao escancarar
uma realidade: o asco da sociedade com as Genis da época.
Chico
não para de “colorir” suas músicas por aí. Em Bárbara, composta em parceria com Ruy Guerra para a peça Calabar, o amor entre duas mulheres é
claramente notado e narrado em uma letra levada por uma melodia que envolve
ricamente e que convida para a análise de mais uma letra longe de clichês.
“Bárbara,
Bárbara. Nunca é tarde, nunca é demais. Onde estou, onde estás. Meu amor, vem
me buscar. O meu destino é caminhar assim. Desesperada e nua. Sabendo que no
fim da noite serei tua”. Neste trecho fica clara a narração feminina para outra
mulher.
Um
pouco depois a música fala em “ceder às tentações das bocas cruas e mergulhar
no poço escuro de nós duas”, o que remete ao desejo e as demonstrações
afetuosas entre mulheres sempre reprimidas, escondidas, longe do mundo ao
redor.
As
duas obras se mostram de maneira clara como um pedido de escancarar desejos,
amores, sabores. Trazer à tona o que existe e é escondido muitas vezes pela
hipocrisia. Muitos anos se passaram e as letras não perderam sentido. Muito
tempo passou e Bárbaras e Genis continuam na nossa sociedade.
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