sexta-feira, 10 de maio de 2019

A importância do aconselhamento psicológico para população LGBTQ+

Descrição para cegos: Fachada do prédio onde funciona o Centro de Cidadania LGBT em João Pessoa. 
Nos últimos 4 anos, houve um aumento significativo no número de suicídios cometidos por pessoas LGBTs. São poucas as políticas públicas que visam a saúde mental dessa população, que é tão importante quanto a saúde física, principalmente em uma sociedade homofóbica como a que vivemos. Prova disso são os números apresentados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) no relatório sobre mortes de LGBTs no Brasil em 2018. Foram registradas 420 mortes em decorrência de homo e transfobia, dessas, 99 por suicídio. A heteronomatividade imposta pela sociedade gera preconceitos, adoece e exclui essas pessoas do meio social, dificultando seu acesso à educação, oportunidades de emprego e uma boa qualidade de vida, deixando-os em condições de vulnerabilidade.
Pensando nisso, o Centro de Cidadania LGBT de João Pessoa, desenvolveu o serviço de atendimento e acompanhamento psicológico. O centro atende cerca de 60 pessoas por mês, vindas da capital e de outros estados, como Brasília e Manaus.
Uma das profissionais responsáveis pelos atendimentos no centro é a psicóloga Jô Oliveira. Ela explica como é feito o processo inicial de acolhimento: “A demanda inicial é algum colega que indicou, ou uma demanda espontânea mesmo. Têm casos de a pessoa estar passando aqui de frente, e o prédio chama atenção do usuário (que é como nós chamamos), então ele entra para saber sobre o serviço e a partir disso inicia o processo de acolhimento”. Jô relata também que muitas vezes os usuários do serviço chegam ao local em busca de emprego ou residência em abrigos, já que foram expulsos de suas casas por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero, e é nesse momento que são informados sobre o serviço de acompanhamento e aconselhamento psicológico oferecido no local, mas nem sempre há interesse ,visto que sua prioridade no momento é a sobrevivência: onde vão viver e como irão se manter, colocando suas questões psicológicas em segundo plano. Isso dificulta até mesmo a frequência às consultas, visto que muitos não dispõem do dinheiro da passagem para chegar até o centro. Nesses casos, ocorrem consultas esporádicas, mas que os ajuda a lidar com suas questões e problemas enfrentados.
Descrição para cegos: Imagem feita durante entrevista com a psicóloga Jô Oliveira. A entrevistadora está de costas para câmera, a sua frente, está Jô, gesticulando com as mãos. Ao fundo, há um quadro pendurado na parede com uma representação dom mar. Foto: Matheus Cirne


Outra entrevistada foi a estudante Paula de Fátima, que está cursando o último período do curso de Psicologia e atualmente é estagiária na clínica, acompanhando 5 pacientes. Ela reconhece as dificuldades existentes no atendimento à comunidade LGBT. “A gente não tem uma rede bem apropriada. Tem essa aqui que faz o possível e o impossível, dentro das suas limitações para proporcionar o bem-estar dos pacientes”. A discente de psicologia relata que alguns dos seus pacientes já tentaram cometer suicídio, mas com o acompanhamento psicológico, o quadro foi revertido, com alguns tendo recebido alta e seguido com suas vidas normalmente.
Segundo Jô Oliveira, em muitos atendimentos, os usuários chegam passando por algum tipo de crise, e recebem uma consulta a fim de serem tranquilizados e acalmados. “Quando o usuário chega surtado, eu prefiro usar a abordagem do TCC (Terapia Cognitiva Comportamental) que trabalha com o aqui e agora. São usadas práticas para conter o usuário e ele sair daqui bem até para outro encaminhamento”. Nesses casos o paciente não passa por acompanhamento, apenas por uma escuta no momento de crise.
Citando o aumento nos casos de suicídio dentro da comunidade LGBT+, ela comenta: “as pessoas suicidas pensam em morte 24h, só que elas pensam na morte delas como um alívio daquele sofrimento, não como algo que vai acontecer para todo mundo. O suicida, é muito difícil ele se matar na primeira tentativa, ele quer chamar atenção. Ele está pedido socorro, ‘me vejam! ’. Então, acontece a primeira, segunda, terceira tentativa, até que uma hora, vai”. Para ela, o que essas pessoas desejam é serem acolhidas, se sentirem parte de algo e entender que não são diferentes por conta de seus desejos ou por não se identificarem com seu sexo biológico, visto que isso é algo pessoal e individual de cada sujeito.
Diante disso fica clara a importância de políticas públicas que ofereçam a essa população, que acaba sendo marginalizada e excluída, uma melhor qualidade de vida, com mais oportunidades de emprego, serviços de acolhimento e aconselhamento psicológico para que possam desfrutar de uma condição de vida digna, assegurando-lhes sua cidadania, como todos os outros indivíduos que compõem a nossa diversa sociedade.
Por: Joyci Medeiros

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