Descrição
para cegos: Fachada do prédio onde funciona o Centro de Cidadania LGBT em João
Pessoa.
|
Nos
últimos 4 anos, houve um aumento significativo no número de suicídios cometidos
por pessoas LGBTs. São poucas as políticas públicas que visam a saúde mental
dessa população, que é tão importante quanto a saúde física, principalmente em
uma sociedade homofóbica como a que vivemos. Prova disso são os números
apresentados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) no relatório sobre mortes de LGBTs
no Brasil em 2018. Foram registradas 420 mortes em decorrência de homo e
transfobia, dessas, 99 por suicídio. A heteronomatividade imposta pela
sociedade gera preconceitos, adoece e exclui essas pessoas do meio social,
dificultando seu acesso à educação, oportunidades de emprego e uma boa
qualidade de vida, deixando-os em condições de vulnerabilidade.
Pensando
nisso, o Centro de Cidadania LGBT de João Pessoa, desenvolveu o serviço de
atendimento e acompanhamento psicológico. O centro atende cerca de 60 pessoas
por mês, vindas da capital e de outros estados, como Brasília e Manaus.
Uma
das profissionais responsáveis pelos atendimentos no centro é a psicóloga Jô
Oliveira. Ela explica como é feito o processo inicial de acolhimento: “A
demanda inicial é algum colega que indicou, ou uma demanda espontânea mesmo.
Têm casos de a pessoa estar passando aqui de frente, e o prédio chama atenção
do usuário (que é como nós chamamos), então ele entra para saber sobre o serviço
e a partir disso inicia o processo de acolhimento”. Jô relata também que muitas
vezes os usuários do serviço chegam ao local em busca de emprego ou residência
em abrigos, já que foram expulsos de suas casas por conta de sua orientação
sexual ou identidade de gênero, e é nesse momento que são informados sobre o
serviço de acompanhamento e aconselhamento psicológico oferecido no local, mas
nem sempre há interesse ,visto que sua prioridade no momento é a sobrevivência:
onde vão viver e como irão se manter, colocando suas questões psicológicas em
segundo plano. Isso dificulta até mesmo a frequência às consultas, visto que
muitos não dispõem do dinheiro da passagem para chegar até o centro. Nesses
casos, ocorrem consultas esporádicas, mas que os ajuda a lidar com suas
questões e problemas enfrentados.
Outra
entrevistada foi a estudante Paula de Fátima, que está cursando o último
período do curso de Psicologia e atualmente é estagiária na clínica,
acompanhando 5 pacientes. Ela reconhece as dificuldades existentes no
atendimento à comunidade LGBT. “A gente não tem uma rede bem apropriada. Tem
essa aqui que faz o possível e o impossível, dentro das suas limitações para
proporcionar o bem-estar dos pacientes”. A discente de psicologia relata que
alguns dos seus pacientes já tentaram cometer suicídio, mas com o
acompanhamento psicológico, o quadro foi revertido, com alguns tendo recebido
alta e seguido com suas vidas normalmente.
Segundo
Jô Oliveira, em muitos atendimentos, os usuários chegam passando por algum tipo
de crise, e recebem uma consulta a fim de serem tranquilizados e acalmados.
“Quando o usuário chega surtado, eu prefiro usar a abordagem do TCC (Terapia
Cognitiva Comportamental) que trabalha com o aqui e agora. São usadas práticas
para conter o usuário e ele sair daqui bem até para outro encaminhamento”.
Nesses casos o paciente não passa por acompanhamento, apenas por uma escuta no
momento de crise.
Citando
o aumento nos casos de suicídio dentro da comunidade LGBT+, ela comenta: “as
pessoas suicidas pensam em morte 24h, só que elas pensam na morte delas como um
alívio daquele sofrimento, não como algo que vai acontecer para todo mundo. O
suicida, é muito difícil ele se matar na primeira tentativa, ele quer chamar
atenção. Ele está pedido socorro, ‘me vejam! ’. Então, acontece a primeira,
segunda, terceira tentativa, até que uma hora, vai”. Para ela, o que essas
pessoas desejam é serem acolhidas, se sentirem parte de algo e entender que não
são diferentes por conta de seus desejos ou por não se identificarem com seu
sexo biológico, visto que isso é algo pessoal e individual de cada sujeito.
Diante
disso fica clara a importância de políticas públicas que ofereçam a essa
população, que acaba sendo marginalizada e excluída, uma melhor qualidade de
vida, com mais oportunidades de emprego, serviços de acolhimento e
aconselhamento psicológico para que possam desfrutar de uma condição de vida digna,
assegurando-lhes sua cidadania, como todos os outros indivíduos que compõem a
nossa diversa sociedade.
Por: Joyci Medeiros
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será publicado em breve.