terça-feira, 7 de maio de 2019

Entrevista com Darius X Moreno

Darius Moreno no Instagram (@dariusxmoreno). Descrição para cegos: Darius aparece sentado.
O uso meticuloso de cores ácidas preenchem as telas do artista visual estadunidense Darius Moreno. Quase sempre protagonizadas por personagens negras e figuras andróginas, suas obras navegam a hipnose estética afro-americana do início dos anos 2000. Eu conversei por e-mail com o animador, escultor, ilustrador e pintor que mora em Nova Iorque, mas é originalmente de Washington D.C, sobre a espontaneidade política de sua arte.

Você considera sua arte política?
Até certo ponto, sim. No entanto, eu nunca crio minha arte para ser, intencionalmente, política. Acho que os assuntos que eu escolho representar (minorias étnicas) podem ser lidos politicamente, dependendo do propósito da obra. A representação dos meus personagens, geralmente, possui uma certa androgenidade. Um dos meus objetivos é que as pessoas sejam seduzidas até o meu trabalho por meio da atração, mesmo que isso deixe algumas delas desconfortáveis. Espero que meu trabalho possa criar novos espaços para discussões que precisam ser tidas.

Capa da mixtape “Dick Appointment 3” de Dylan Ali por Darius Moreno, 2019. Descrição para cegos: Pintura de um homem negro nu, com fundo azul. As palavras “Dick Appointment 3” aparecem no canto inferior da imagem.
Ver homens negros assumindo sua homossexualidade com confiança me ajudou a perceber a masculinidade negra sob uma luz diferente

Um de seus trabalhos mais recentes me chamou a atenção - a arte da capa da nova mixtape de Dylan Ali, "Dick Appointment 3". Me conte mais sobre como a masculinidade negra é incorporada nas suas ilustrações.
É um termo que estou tentando redefinir através da minha arte. Quando penso em masculinidade negra, penso nos estereótipos de como um homem negro deve aparentar e se comportar. Quando eu criei essa peça para Dylan, estava procurando por estrelas de pornôs gays dos anos 70. Por alguma razão, a pornografia era levada muito mais a sério nessa época. Ver tantos photoshoots de homens negros assumindo sua homossexualidade com confiança, me ajudou a perceber a masculinidade negra sob uma luz diferente. Eu quero que ela seja vista em meu trabalho através de múltiplas lentes, já que é um conjunto de características que devem ser definidas por nós de maneira individual. 

Seu trabalho é bem centrado em torno de mulheres (mulheres negras, especificamente). Fale sobre o papel que elas desempenham no seu processo criativo.
A mulher negra é o que mais me inspira. Eu cresci com minha mãe, minha irmã mais velha e minha irmã gêmea. Então, ser criado em torno de todas essas mulheres afetou meu senso de realidade. Sempre notei o quão desrespeitadas as mulheres negras eram na vida, o que me fez perceber o quanto elas merecem apreciação. Eu fiz a minha missão de sempre destacar a beleza dessas mulheres porque foram elas que me criaram. Acredito que as negras são responsáveis ​​por várias das tendências de moda, por conta da criatividade que elas colocam em sua aparência do dia-dia. E por tudo isso, as mulheres negras merecem todo o louvor.

Quando eu faço a arte das capas de projetos musicais para artistas, quase sempre estou modelando os interesses amorosos com mulheres trans em mente
Capa do segundo álbum de estúdio do rapper Goldlink, "At What Cost", 2017. Descrição para cegos: Na ilustração, à esquerda, aparece um homem negro segurando notas de dinheiro. Á sua direita, duas mulheres negras próximas uma da outra. Elas vestem roupas pretas curtas. Mais para direita, um homem negro se encosta em um carro roxo com detalhes amarelos. O homem segura a mão de uma mulher negra que caminha para a direita. O fundo é composto por chamas na parte inferior e tons de azul na parte superior.

O hip-hop e o rap são um grande tema do seu trabalho. Está por toda a sua arte, você se inspira bastante na iconografia dessa cultura. Mas, olhando para como a relação entre o hip-hop e a identidade LGBTQ+ existiu, historicamente, em um terreno tênue, te pergunto: onde fica o espaço para essa identidade no hip-hop? Na comunidade de rap, por exemplo, há tentativas claras de normalizar a violência contra pessoas LGBTQ+ através de letras de músicas. Como você, que se identifica como queer, navega nesse espaço?
Como uma pessoa queer, minha relação entre o hip-hop e a comunidade LGBTQ+ é difícil. Quando eu era pequeno, eu só ouvia rappers mulheres como Lil Kim porque sentia que ela estava falando comigo e com outros garotos gays que também se sentiam excluídos. Na medida em que meu amor pelo hip-hop cresceu e eu comecei a notar a homofobia na indústria musical, tive que parar para refletir o porquê de ainda estar tão atraído pela música. Para falar a verdade, acho que comecei, a partir disso, procurar por pistas nas letras que poderiam ser consideradas “gays” ou “questionáveis”, já que todos nós sabemos que muitas das pessoas no hip hop não são assumidas sexualmente por causa da pressão de serem gays e negras. Isso me ajudou a sentir como se as canções estivessem falando comigo. Agora, que faço parte dessa indústria, incluo easter eggs da cultura gay em todo o meu trabalho. Não vou ser muito específico, mas muitas vezes quando eu faço a arte das capas de projetos musicais para artistas, quase sempre estou modelando os interesses amorosos com mulheres trans em mente. Aliás, sempre me surpreendo com as peças que os rappers geralmente escolhem. Felizmente, os rappers com quem trabalhei não são homofóbicos. Mas, recentemente, eu tenho me desviado do hip-hop e escutando mais jazz e música alternativa, principalmente porque a homofobia no hip-hop mainstream se torna frustrante.

Descrição para cegos: Na ilustração à esquerda, aparece o rosto de um homem negro, pintado com tons de amarelo, laranja e verde. O fundo é vermelho. A ilustração à direita apresenta o rosto de uma mulher negra, pintada com tons fortes de azul. A mulher tem brincos de argolas amarelas. O fundo é rosa.
Por: Mariani Pontes

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