Descrição
para cegos: a drag Bob The Drag Queen aparece na foto. Sob um fundo amarelo, a
queen apresenta maquiagem em tons neon e segura um incenso. Foto por: David
Ayllon.
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Por Matheus Cirne
Ao longo da história, homens têm se vestido
de mulher como uma forma de arte. Desde a Grécia antiga, quando então as
mulheres eram proibidas de se apresentarem nos teatros, os homens passaram a
usar roupas femininas para as representarem.
Com
o passar do tempo, a arte drag foi se modificando e sofreu um processo de
adaptação. Se, no passado, servia para suprir as necessidades da falta de
mulheres no teatro, hoje, firmou seu espaço dentro da cultura pop e é
considerada uma forma de ativismo e de resistência do público LGBTQ+.
O
nome, que tem sua origem na língua inglesa, vem do verbo “to drag”, que
significa arrastar, em português. Ele faz referência às longas roupas femininas
que se arrastavam pelos palcos durante as apresentações.
Tendo
seu surgimento na Grécia antiga, a arte drag perpassou os séculos se moldando
às necessidades de cada época. Fosse na Inglaterra do século XVI de
Sheakespeare, ou na Europa dos séculos XVIII e XIX, homens se vestindo de
mulher serviam apenas à propósitos cômicos ou específicos do teatro, sem
nenhuma intenção política.
Somente
partir do século XX, com o surgimento e a consolidação da cultura pop,
especialmente nos Estados Unidos e na Europa, a arte drag pode se ressignificar
e ganhar espaço. Isto se deu pelo fato de que a cultura pop, ao se consolidar,
possibilitou uma maior abertura em relação à comunidade gay.
Nos
ambientes de encontro da comunidade, especialmente os bares, as drag
encontraram espaço para se montarem e divulgarem a arte. Entre as décadas de
1960 e 1990, se tornaram um símbolo da luta pelos direitos LGBTQ+, em
manifestações que marcaram a história da comunidade LGBTQ+, a exemplo dos
protestos de Stonewall, em 1969,na cidade de Nova Iorque.
Nos
dias atuais, devido, em grande parte, à influência causada pela drag queen
estadunidense Rupaul Charles, através do seu programa de televisão “Rupaul’s
Drag Race”, a arte drag se encontra cada vez mais disseminada. O espaço
conquistado por Rupaul, especialmente nos anos 1990, quando esteve presente em
diversos programas televisivos, em filmes e em álbuns musicais, foi essencial
para que as portas se abrissem para uma arte drag mais politizada e engajada
com as causas LGBTQ+.
Descrição para cegos: drag queen Rupaul aparece na foto em preto e branco sorrindo. Veste um maiô e um sobretudo transparente. Foto por: Getty Images. |
Hoje,
Rupaul evidencia a arte drag para todo o mundo com seu programa de televisão
que já conquistou 3 Prêmios Emmy. O programa revolucionou as cenas drags locais
de inúmeros lugares pelo mundo e realiza um importante trabalho de
conscientização acerca da arte.
Descrição para cegos: foto promocional do
reality show Rupaul’s Drag race, contendo as participantes da nona temporada da
atração. Foto por: reprodução.
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Resultado desta influência é a presença cada vez mais comum de drags em programas televisivos, na moda, na música e em diversos outros setores do entretenimento. No Brasil, drags queens como Pabllo Vittar e Gloria Groove movimentam o cenário da música pop nacional, com canções que se mantém no topo das mais ouvidas.
Descrição para cegos: a drag queen
brasileira Pabllo Vittar em foto promocional do seu disco “Não para não”,
lançado no ano de 2018. Foto por: divulgação.
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Na Tv, as drag queens Ikaro
Kadoshi, Rita Von Hunty e Penelopy Jean possuem um programa no canal fechado
E!, no qual ajudam mulheres a encontrar sua diva interior.
Quando se fala na arte drag,
não se fala em apenas um único estilo. Existe uma variedade de formas de
expressar a arte, que podem tanto ser femininas quanto apresentarem um estilo
andrógeno, que brinque com os dois gêneros.
Dentre os muitos estilos
drag, merece destaque o estilo que ficou conhecido como Club Kid. Este estilo marcou a cena drag
nova-iorquina nos anos 1990 e foi caracterizado pelo seu senso de moda exótico
e fora dos padrões de gênero. Uma das drag queens mais influentes deste
movimento foi Leigh Bowery, que com seu estilo irreverente, marcou a cena drag
não somente estadunidense, mas também internacional.
Descrição para cegos:
a drag queen Leigh Bowery aparece, diante de um fundo rosa, com rosto
expressivo e unhas grandes de cor amarela. Foto por: Werner Pawlock.
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Há também drag queens
voltadas a um estilo que personifique uma pessoa famosa, ou as que sejam
focadas na comédia. Ainda, existem os drag kings, mulheres que buscam em seus
visuais e transformações personificarem os estereótipos do gênero masculino.
Ser
drag queen é realizar uma ode à feminilidade. Não importa o estilo, nem se quem
pratica a arte é homem ou mulher, cis ou trans, gay ou hétero. A arte, que cada
vez mais influencia o mundo em suas diversas áreas, não possui regras e é um
convite à quebra de convenções sociais.
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