A ciência procura há décadas as origens do comportamento
homossexual. O tamanho dos dedos das mãos, a tendência para ser canhoto ou
destro e até a direção em que os cabelos nascem já foram cogitados como
diferenças físicas entre gays e heterossexuais. Cientistas do Instituto do
Cérebro de Estocolmo, na Suécia, usaram técnicas de tomografia para analisar o
cérebro de 50 voluntários - entre heterossexuais e homossexuais de ambos os
sexos. Eles descobriram que uma área ligada às emoções, chamada amígdala, é ativada
da mesma maneira tanto nos homens quanto nas lésbicas. E que outro padrão é
encontrado nas mulheres e nos homens gays.
A equipe da neurobióloga Ivanka Savic também submeteu 90
pessoas a exames de ressonância magnética para medir o tamanho de cada uma das
metades do cérebro. Mais uma vez houve correspondência entre homossexuais e o
sexo oposto. Assim como os homens, as lésbicas têm o lado direito do cérebro
maior do que o esquerdo. Já mulheres e gays têm as duas metades simétricas.“Os
resultados não significam que gays têm um cérebro feminino nem que lésbicas
possuem um cérebro masculino”, diz Qazi Rahman, da Queen Mary University. “Os
gays têm o melhor dos dois mundos: um cérebro com características masculinas e
femininas.”
O estudo foi recebido como uma das mais fortes evidências de
que a causa da homossexualidade também é determinada biologicamente e não
apenas por uma escolha pessoal, moldada por experiências de vida. “A anatomia
do cérebro não é tão plástica a ponto de as mudanças relatadas no estudo
ocorrerem durante a vida adulta”, diz o neurocientista Jorge Moll Neto,
coordenador do Núcleo de Neurociências da Rede Labs D’Or.
Outro estudo divulgado esta semana reforçou a ideia de que a
homossexualidade faz sentido até do ponto de vista da seleção natural. Algumas
linhas de estudo supõem que, quando presentes em mulheres, as supostas
características genéticas gays aumentariam a fertilidade. Usando modelos
matemáticos, o pesquisador italiano Andrea Camperio Ciani teria comprovado que
mulheres da família de gays compensariam com vantagem os poucos filhos que eles
teriam. E quanto mais descendentes, melhor para a espécie.
Nesse caso, a
matemática também explica.
Marcelo Lima
Adaptado do texto de Marcela Buscato para a Revista Época
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