terça-feira, 13 de maio de 2014

Um balanço de doze anos de casamento homoafetivo na Holanda

Quais foram as terríveis consequências de uma década de casamento igualitário nos Países Baixos? Eles nunca mais se classificaram no Eurovision


   O site Lado Bi publicou no último dia 7 uma matéria traduzida de Laurent Chambon, um professor de Francês que vive na Holanda. O professor relata como está o país depois de doze anos de aprovação do casamento homoafetivo. (Gabriela Neves)
Confira:

  
    Era uma segunda-feira de manhã, no colégio holandês em que eu dava aulas de francês. Na véspera os opositores da igualdade entre héteros e gays na França haviam erguido cartazes com slogans cheios de ódio e vestido chapéus azuis em enormes passeatas. A televisão holandesa havia iniciado o telejornal de domingo à noite com essas imagens espetaculares e um comentário pasmado da correspondente em Paris, dizendo algo como “centenas de milhares de franceses negam a igualdade para os homossexuais”.
    Minha turma de ensino médio estava um pouco inquieta, e eu lhes perguntei o que havia de errado.

   “Professor, por que é que as pessoas estão indo às ruas na França para negar o casamento aos gays?”

   Eu então lhes expliquei que o governo de esquerda, formado depois da eleição presidencial do ano anterior (algo que praticamente a Holanda inteira havia seguido e comentado) havia dado início ao debate sobre estender o casamento aos casais homoafetivos. Eu tentei aproveitar essa oportunidade para falar da oposição entre a esquerda e a direita e dos nomes dos diferentes partidos. Mas a classe continuava febril.

    “Mas, professor, a gente não entende por que eles são contra.”



    Eu tentei explicar então a influência da Igreja, os problemas que a oposição tem em formar alianças, tudo mais. Eles não engoliram nada disso, o barulho da classe só aumentou, eu sentia que seria obrigado a aplicar algum tipo de castigo para controlar a classe.
    Finalmente uma garota um pouco mais articulada que o resto resolveu falar…

   “O que eu não entendo, professor, é por que essas pessoas se incomodam tanto que os outros se casem. Isso não é da conta deles. Eles não vão ser obrigados a se casarem com um homem se eles forem homens, ou com uma mulher se elas forem mulheres.”
   “Isso aí, você não deve ter explicado direito, a gente ainda não conseguiu entender a razão!”

    Em suma, o professor que é incompetente.
   E eles estavam certos, eu não fui capaz de encontrar um único argumento que prestasse em favor dos manifestantes da véspera. Eu podia tentar tagarelar sobre as manobras da Igreja ou sobre o partido UMP prestes a explodir sob a ameaça do FN, mas nenhuma dessas razões tem credibilidade aos olhos desses jovens. Eu não sei se a mesma coisa acontece nas faculdades e escolas francesas, mas uma colega minha que também ensina francês na sala ao lado disse que seus alunos tinham as mesmas perguntas, e ela também teve muita dificuldade em explicar-lhes o porquê.
    Em 2013 fazia doze anos que os casais homoafetivos podiam se casar na Holanda. Chegou-se a esse resultado graças a um debate, no final dos anos 1980, sobre a questão da igualdade. Esse debate levou a uma emenda constitucional em 1991 (o artigo primeiro da Constituição estipula que todos devem ser tratados de maneira igual) e ao estabelecimento de uma parceria civil aberta a todos os casais em 1997.
Essa parceria civil foi sendo aprimorada a tal ponto que suas consequências jurídicas tornaram-se as mesmas do casamento, o que fez que finalmente o casamento fosse concedido a todos os casais no começo do século 21. A prefeitura de Amsterdam se apressou para casar vários casais homoafetivos no dia primeiro de abril de 2001 às 00:01 h, perante as câmeras do mundo todo. Amsterdam, a cidade mais tolerante do mundo! O departamento de turismo estava exultante.
    E depois? Nada.
    [...]
   Durante toda minha atuação como professor da rede pública, eu nunca escondi que sou casado com um homem. As únicas questões que torturam meus alunos são por que eu ainda não adotei nenhum filho (“Seus filhos teriam notas ótimas de francês!”) e descobrir se o meu marido é bonito.
 
Está claro, quando se olha para a década passada, que o casamento homoafetivo na Holanda teve consequências palpáveis.

Se quiser conferir a matéria na integra clique aqui


Fonte: http://www.ladobi.com/2014/05/holanda-casamento-igualitario/ 

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