Quais foram as terríveis consequências de uma década de casamento igualitário nos Países Baixos? Eles nunca mais se classificaram no Eurovision
O site Lado Bi publicou no último
dia 7 uma matéria traduzida de Laurent Chambon, um professor de Francês que
vive na Holanda. O professor relata como está o país depois de doze anos de
aprovação do casamento homoafetivo. (Gabriela Neves)
Confira:
Era uma segunda-feira de
manhã, no colégio holandês em que eu dava aulas de francês. Na véspera os
opositores da igualdade entre héteros e gays na França haviam
erguido cartazes com slogans cheios de ódio e vestido chapéus azuis em
enormes passeatas. A televisão holandesa havia iniciado o telejornal de domingo
à noite com essas imagens espetaculares e um comentário pasmado da
correspondente em Paris, dizendo algo como “centenas de milhares de franceses
negam a igualdade para os homossexuais”.
Minha turma de ensino médio
estava um pouco inquieta, e eu lhes perguntei o que havia de errado.
“Professor, por que é que as
pessoas estão indo às ruas na França para negar o casamento aos gays?”
Eu então lhes expliquei que o
governo de esquerda, formado depois da eleição presidencial do ano anterior
(algo que praticamente a Holanda inteira havia seguido e comentado) havia dado
início ao debate sobre estender o casamento aos casais homoafetivos. Eu tentei
aproveitar essa oportunidade para falar da oposição entre a esquerda e a
direita e dos nomes dos diferentes partidos. Mas a classe continuava febril.
Eu tentei explicar então a
influência da Igreja, os problemas que a oposição tem em formar alianças, tudo
mais. Eles não engoliram nada disso, o barulho da classe só aumentou, eu sentia
que seria obrigado a aplicar algum tipo de castigo para controlar a classe.
Finalmente uma garota um pouco
mais articulada que o resto resolveu falar…
“O que eu não entendo, professor,
é por que essas pessoas se incomodam tanto que os outros se casem. Isso não é
da conta deles. Eles não vão ser obrigados a se casarem com um homem se eles
forem homens, ou com uma mulher se elas forem mulheres.”
“Isso aí, você não deve ter
explicado direito, a gente ainda não conseguiu entender a razão!”
Em suma, o professor que é
incompetente.
E eles estavam certos, eu não fui
capaz de encontrar um único argumento que prestasse em favor dos manifestantes
da véspera. Eu podia tentar tagarelar sobre as manobras da Igreja ou sobre o
partido UMP prestes a explodir sob a ameaça do FN, mas nenhuma dessas razões
tem credibilidade aos olhos desses jovens. Eu não sei se a mesma coisa acontece
nas faculdades e escolas francesas, mas uma colega minha que também ensina
francês na sala ao lado disse que seus alunos tinham as mesmas perguntas, e ela
também teve muita dificuldade em explicar-lhes o porquê.
Em 2013 fazia doze anos que os
casais homoafetivos podiam se casar na Holanda. Chegou-se a esse resultado
graças a um debate, no final dos anos 1980, sobre a questão da igualdade. Esse
debate levou a uma emenda constitucional em 1991 (o artigo primeiro da
Constituição estipula que todos devem ser tratados de maneira igual) e ao
estabelecimento de uma parceria civil aberta a todos os casais em 1997.
Essa parceria civil
foi sendo aprimorada a tal ponto que suas consequências jurídicas
tornaram-se as mesmas do casamento, o que fez que finalmente o casamento fosse
concedido a todos os casais no começo do século 21. A prefeitura de Amsterdam
se apressou para casar vários casais homoafetivos no dia primeiro de abril de
2001 às 00:01 h, perante as câmeras do mundo todo. Amsterdam, a cidade mais
tolerante do mundo! O departamento de turismo estava exultante.
E depois? Nada.
[...]
Durante toda minha atuação como
professor da rede pública, eu nunca escondi que sou casado com um homem. As
únicas questões que torturam meus alunos são por que eu ainda não adotei nenhum
filho (“Seus filhos teriam notas ótimas de francês!”) e descobrir se o meu
marido é bonito.
Se quiser conferir a matéria na
integra clique aqui
Fonte: http://www.ladobi.com/2014/05/holanda-casamento-igualitario/
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